Em São Paulo, para a disputa da fase nacional da Taça das Favelas, duas equipes representam Mato Grosso do Sul no maior torneio de futebol desse tipo no mundo, iniciado na sexta-feira (8). Viajar em torno de mil km tem significado mais amplo do que apenas atuar na competição para os 21 jogadores e 22 jogadoras de Mato Grosso do Sul.
Por mensagens de áudio, a coordenadora da Cufa CG (Central Única das Favelas), Letícia Polidoro, cita a importância da viagem. “É um projeto da Cufa Nacional, existe desde 2019. Para a gente, conseguir ser incluída nesse projeto é muito importante. Ter representividade do Mato Grosso do Sul em São Paulo, no Taça das Favelas, afirma, mais uma vez, que em Campo Grande tem favela”, diz, em entrevista à reportagem, na manhã de sábado (9). “Tem jovens, tem atletas nessas favelas, que vieram jogar em São Paulo. É de suma importância estar aqui”, acrescenta.
O grupo é formado por atletas sub-17 de Campo Grande. “Tivemos um tempo de preparação de uns quatro meses. Os treinos eram realizados, cada um na sua região, na sua escolinha de futebol”, aponta Letícia. No masculino, o elenco é mistura de jogadores dos times G12 e CTA. No feminino, as representantes são do Atlético Santista.
Para a maioria, o evento significa a primeira viagem para fora do Estado. “Eles estão encantados, com o tamanho da cidade de São Paulo, com o que estão vivenciando. O espaço do campeonato é muito bonito, bem preparado”, prossegue a coordenadora da Cufa.
“A alimentação é [em formato] buffet, montado na hora, para eles servirem. Está sendo tudo muito novo para eles, a gente teve essa conversa, sobre que influência essa viagem ia trazer para a vida deles e eles estão muito felizes com o momento que estão vivendo. Chegar até aqui, para eles, já foi a realização de um sonho. Para mim, está sendo”, relata.
Responsabilidade e intercâmbio
Letícia compõe a delegação, que tem dois integrantes da Cufa, comissão técnica, equipe de cozinha, um total de 16 adultos. Questionada sobre a responsabilidade em transportar jovens atletas – de ônibus, são aproximadamente 12 horas a separar Campo Grande e a capital de São Paulo –, ela admite ser um dos maiores desafios. “Cuidar das crianças está na nossa responsabilidade, os pais confiaram na gente, de trazê-
-los para cá”, afirma.
A coordenadora cita também o intercâmbio com outros Estados durante o torneio. “As meninas jogaram ontem (8), com o Rio de Janeiro, que são a atual campeã (derrota por 5 a 0). Essa questão da comunicação, de a gente trocar ideia, sobre o cuidado com essas meninas, aprender com os que vieram primeiro, respeitar isso e se organizar para que nos próximos anos haja melhoras”, cita.
Quanto à situação que atravessa o campo esportivo, ela diz: “A Taça das Favelas deixa muito evidente a questão da favela. Das moradoras, dos moradores, das crianças, a maioria é ‘cria’ da favela. Falar da Taça das Favelas, a gente já está falando de uma resistência, dessas moradias. Acaba discutindo um pouquinho sobre favela, moradia, aonde esses meninos estão e dando oportunidade para eles, aonde quer que eles cheguem. A gente acaba tendo um papo ‘da hora’, sabe?”
Sobre o apoio que vem do poder público e da iniciativa privada, para chegar a São Paulo, Letícia enfatiza que houve muita ajuda dos pais, fundamental para conseguir bolas, uniformes, transporte e alimentação para 55 pessoas, dentre outros itens.
Mais da Taça
Dentro de campo, as sul-mato-grossenses ainda tem, pela primeira fase, jogos com o Paraná, neste domingo, e São Paulo. No masculino, pela frente, vem Rio de Janeiro (jogaria sábado), Espírito Santo, nesta segunda-feira, e Mato Grosso, na quarta-feira.
“Se passar de fase, a gente vai ficar até dia 15 (sexta-feira). Se passar para a final, gente volta em janeiro. Se não, estamos liberados para ir embora antes”, afirma a coordenadora da Cufa.
O Taça das Favelas foi criado pela Cufa (Central Única das Favelas) em 2012, no Rio de Janeiro, e é organizado também em São Paulo, desde 2019. Na história, alguns jogadores que disputaram a competição conseguiram alçar carreira no futebol profissional. O de maior projeção foi Patrick de Paula, hoje com 24 anos. Revelado no evento, foi para o Palmeiras em 2017, e depois, negociado ao Botafogo, seu atual clube.
Por – Luciano Shakihama.
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.