Campo Grande: “Depois das 19h é deserto”, consumidores sentem falta do comércio noturno

Lojistas comentam sobre potencial e desafios para ampliar horário de funcionamento do comércio central

Você já teve a sensação, de que não tem tempo de ir ao comércio da área central de Campo Grande, e quando vai encontra as lojas fechadas? Pois é, a Capita apesar de ser referência regional em serviços e varejo, ainda opera com um comércio essencialmente diurno. Enquanto outras capitais brasileiras já adotam funcionamentos que avançam pela noite, na capital sul-mato-grossense o movimento costuma cair rapidamente após as 18h, e as lojas encerram o atendimento por volta das 18h30.

Diante desse cenário, comerciantes, consumidores e representantes de entidades do setor avaliam se a cidade tem potencial para adotar um modelo de horário estendido.Para muitos estabelecimentos, a consolidação de Campo Grande como uma cidade “matutina” é um elemento central. A comerciante Keterin Mota, proprietária de uma loja no Centro, explica que o horário mais prolongado funciona bem apenas em datas específicas, como agora, no fim de ano com a chegada do Natal.

“Se fosse até umas 19h estaria ótimo, depois disso já não atende mais nosso público. Fora da época natalina não compensa, vira prejuízo. Teríamos que ter duas escalas de funcionários”, afirma. Para ela, a região central é tranquila e não há dificuldades para um eventual horário estendido, mas o movimento natural da cidade não justificaria a abertura além do tradicional.

Percepção de consumidores

Entre quem trabalha na região central, existe a sensação de que horários mais longos poderiam facilitar o consumo. A representante comercial, Rosangela de Oliveira relata dificuldade em encaixar compras na rotina. “Eu saio às 18h30 e as lojas já estão fechando. A gente acaba deixando para o dia de folga, que já é corrido. Um horário um pouco mais estendido seria bom. Além disso, com mais pessoas na rua à noite eu me sentiria mais segura, porque depois das 19h aqui vira um deserto”, diz.

A fala da representante comercial, indica que há interesse do público, mas ainda restrito a situações específicas, percepção confirmada pelas entidades do setor.

Enquanto o comércio central fecha as portas cedo, a saída apontada por alguns consumidores é o consumo nos shoppings da cidade. Entretanto, custos mais elevados com o estacionamento é um fator que encare o passeio, conforme destacou o consumidor Leonardo de Borges. “Aqui as lojas que ficam abertas até mais tarde é as dos shoppings. Mas normalmente, são mais caras, assim também como o estacionamento, onde uma hora custa quase R$20,00. Então é um passeio que a gente faz somente uma vez no mês e olhe lá”, comentou.

Segundo Adelaido Figueiredo, presidente da Câmara que representa os lojistas de Campo Grande, o principal entrave atual não está na demanda, mas na oferta de mão de obra. Desde o início do ano, mais de 2 mil vagas abertas no comércio, apenas para o período diurno, seguem sem pessoas para ocupá-las. “A dificuldade é ainda maior à noite. Há também o fenômeno da uberização, em que muitos preferem atividades flexíveis a empregos formais. Por isso estamos buscando trazer de volta ao mercado a geração prateada [pessoas com mais 50 anos]”, explica.

Além disso, ele cita elementos estruturais como transporte noturno limitado, custos operacionais mais altos e hábitos da própria população, que ainda concentra suas atividades durante o dia. A CDL já discutiu projetos piloto, mas reforça que qualquer avanço depende de condições adequadas de mobilidade, segurança e disponibilidade de trabalhadores.

Custos também influenciam

Para o primeiro-secretário da ACICG, Roberto Oshiro, a ampliação do horário não depende apenas da vontade dos lojistas, mas também de fatores legais e logísticos. “O ponto central é que os horários são definidos pela Convenção Coletiva. Qualquer mudança exige consenso entre sindicatos, com negociações sobre horas extras, adicionais e compensações”, exemplifica.

Oshiro, acrescenta que a viabilidade exige análise cuidadosa por custos maiores de energia, segurança privada, logística de funcionários e alvarás específicos acrescentarão mais gastos no modelo. E embora existam consumidores interessados, o fluxo após as 18h ainda é considerado insuficiente para justificar uma mudança permanente. “Ao mesmo tempo, quando ampliamos o horário no Natal, o movimento cresce muito, o que demonstra potencial. Mas é um efeito temporário”, completa.

Divergências sobre o modelo ideal

As entrevistas mostram que o setor não tem um consenso. Enquanto alguns defendem que horário estendido poderia atrair consumidores que trabalham até mais tarde, outros consideram mais vantajoso antecipar a abertura.

O comerciante César Nogueira, que atua na 14 de julho, acredita que abrir mais cedo seria mais eficiente do que fechar mais tarde. “Na parte da manhã o fluxo é maior. Já à noite o movimento cai e não compensa. Para algumas grandes redes funciona porque têm crediário e equipe ampla, mas para lojas menores é difícil”, explica.

Futuro para o comércio noturno

Apesar dos desafios, tanto CDL quanto ACICG enxergam potencial para um modelo noturno no futuro, desde que estruturado gradualmente.

As entidades apontam caminhos possíveis como a revitalização do Centro com ações que estimulem maior circulação no período noturno, integração com gastronomia, entretenimento e turismo, criando polos que atraiam público constante, melhorias na mobilidade, com transporte público mais regular no período noturno, ajustes de segurança, ampliando a sensação de tranquilidade para consumidores e trabalhadores, incentivos fiscais ou programas de apoio para reduzir custos de operação e projetos piloto com adesão voluntária de lojistas, em dias e regiões específicas.

Segundo Roberto Oshiro, esse conjunto de fatores pode tornar o comércio noturno uma realidade sustentável. “O potencial existe, mas é preciso combinar condições econômicas, urbanas e trabalhistas. Com uma cidade mais viva à noite, o varejo acompanha”, conclui.

Visando incentivar a retomada econômica da área e a reaproximação da população com o coração de Campo Grande. A Prefeitura de Campo Grande, por meio da Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável), realizou a 1ª edição da Confraria do Centro, encontro que marca o início de uma nova fase no processo de requalificação da região central da Capital.

A ação integra o projeto Centro em Ação e foi promovida em parceria com o empresariado local, por meio do projeto Renova Centro, que tem como meta transformar um dos principais corredores comerciais da cidade em um grande polo de convivência, consumo e serviços.

“A união da Confraria com o Renova Centro simboliza o esforço conjunto entre empresários e Prefeitura para reocupar, modernizar e devolver vitalidade ao coração da cidade. A Confraria foi justamente pensada para consolidar essas parcerias e discutir soluções que tornem o centro de Campo Grande mais atrativo, dinâmico e sustentável”, destacou o secretário municipal, Ademar Silva Júnior.

Por Gustavo Nascimento

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