Barbie transita entre gerações, conquista público de todos os estilos, atravessa o mundo cor de rosa e influencia fãs a romper com padrões, vivendo com inspiração, autenticidade e diversão
Dizer que o live action da “Barbie” estreia hoje (20) é pedir para soar repetitiva. Desde o anúncio da produção, a comoção gerada pelo filme repercutiu em todas as idades, independente da região. Na Capital, os espectadores não fogem à regra, mas o que os diferencia aqui são os afetos que os levaram a aguardar ansiosamente até hoje, quando o filme estreia nos cinemas da Capital e do Brasil.
A repercussão para o filme foi tanta que nos deparamos com histórias que estavam guardadas, só esperando uma oportunidade para serem exibidas. E um live action da boneca era tudo que os fãs não imaginavam e foi o suficiente para gerar surpresa, expectativa, motivo para reunir os amigos, os amigos dos amigos e, enfim, despertar memórias.
Esse é o caso de Sandra Vasconcelos, uma carioca de berço, mas campo-grandense de vida. Inclusive, foi pelas ruas da Capital, há oito anos, que encontrou à venda um Fusca. O Fusca se tornaria o seu tão idealizado Barbiemóvel. A defensora pública, que está há mais de 10 anos em Campo Grande, conta que esse desejo surgiu quando lançaram a coleção da boneca com um Fusca rosa. “Eu sempre sonhei com a ideia de um dia customizar um Fusca para mim. E quando vi, há vários anos, a coleção da Barbie em que ela pilotava um Fusca rosa, surgiu a inspiração que eu precisava para, um dia, fazer o meu Barbiemóvel”, confessa, em entrevista.
A inspiração foi tanta que, em 2015, Sandra comprou seu Fusca, e apesar da aquisição, foi com paciência e alguns anos a mais que conseguiu personalizar o automóvel como imaginava. Ademais, ressalta que o Fusca cheio de personalidade faz mais sucesso que um Lamborghin. “Há oito anos atrás, consegui encontrar um Fusca 1982, de cor branco e em ótimo estado de conservação; no entanto, só após cinco anos da aquisição do meu Fusca, é que comecei a procurar os profissionais que pudessem iniciar a customização. E assim, foram três anos de reforma até sair da oficina do jeitinho que idealizei. Além de pintar a lataria de cor de rosa, ainda pedi que finalizassem com uma base de purpurina. Os bancos ganharam acabamentos em curvin, na cor branco e rosa, cujos detalhes também acompanham a forração de todas as portas! Meu Fusca faz mais sucesso que um Lamborghini (risos). Desde que tirei o carro da oficina, sou parada para fotos, elogios ou dúvidas sobre a história do Fusca.”
O Barbieverso me inspira muito! O seu colorido, o seu brilho, a sua alegria de ver e de curtir a vida. E o principal, reunir tudo isso sem perder a humildade e a simplicidade do ser”, pontua Sandra, com o acréscimo de que ela e a boneca possuem quase a mesma idade. “A Barbie, praticamente tem a minha idade! Eu nasci no dia 4 de abril de 1963 e a Barbie no dia em 9 de março de 1959”. Pelo visto, a semelhança entre Sandra e a boneca vai além da idade; o colorido, o brilho e a alegria com a vida saíram do Barbieverso e transbordaram em Sandra.
Inspiração e liberdade
O universo criativo de Barbie conquistou muitos fãs, entre eles, Mayck Gonçalves Vezaro, que dispõe de uma coleção muito bem cuidada, com o total de 23 bonecas. Gestor de recursos humanos e natural de Cascavel (PR), Mayck comenta que a Barbie e todo o seu universo remete, para ele, criatividade e liberdade, além de ser um meio que o ajudou com o autoconhecimento. “Desde criança foi me despertando esse interesse pela boneca, pelo fato de ser um brinquedo muito criativo. Você pode trocar a roupa, manusear ela, e pode criar uma realidade com uma boneca, brincando e fazendo interação entre elas. Eu sempre achei isso muito legal, fora os acessórios. Inclusive, quando eu estava na casa das minhas primas, às vezes até me escondia para ficar um pouquinho com as bonecas e poder trocar a roupa delas. Eu achava elas muito interessantes, porque a Barbie sempre foi um brinquedo muito colorido, com brilho e isso chamava muito a minha atenção. Mas fora isso, a Barbie sempre chamou minha atenção, principalmente pelo fato da liberdade, de você poder ser o que quiser”, declara o gestor.
Mayck ainda acrescenta que, por ser menino, na maioria das vezes, foi impedido de ganhar ou brincar com bonecas. No entanto, essa repressão se transformou em estímulo, tanto é que o gestor iniciou sua coleção com o primeiro salário e, em conjunto, hoje em dia também é designer. “A questão da coleção, ela está muito ligada em como foi uma parte da minha infância, eu não podia ter uma boneca. Hoje em dia, a gente fala muito disso, de aceitação e do que é ser gay, mas quando eu era criança, não tinha isso. Então, para mim era tudo muito estranho. Eu falava, cara, qual é o problema, por que eu não posso brincar com a boneca? Conforme eu fui crescendo e via as pessoas brincando, eu queria ter, mas falava, eu não posso. E com o tempo foi sendo um gatilho para mim, esse assunto.”
Porém, atingindo a maioridade e em posse do seu primeiro salário, o jovem paranaense afirma ter comprado a primeira boneca de sua coleção. “Quando fiz 18 anos e recebi meu primeiro salário, eu fui lá nas Americanas e falei assim, por que eu não compro uma boneca? Agora eu posso. Fui lá e comprei minha primeira Barbie! A partir daí eu comecei a desenhar roupa para ela e foi despertando essa vontade. E fui comprando outra, e depois outra, e fui comprando várias e hoje em dia eu tenho uma coleção da linha fashionista”, explica.
Foi por meio da linha fashionista que foram desenvolvidas Barbies de etnias e corpos de todos os tamanhos, o que, para Sandra e Mayck, foi um passo fundamental no histórico da boneca e no sentimento que partilham com esse universo, pois, para ambos, a boneca foi uma referência para trilharem o seu próprio caminho com autenticidade e liberdade.
Para Felipe Yasuhiro Takei, campo-grandense, formado em direito, o que o leva até a boneca é a curiosidade com o filme e muita vontade de curtir esse momento com os amigos. “Você também não teve essa curiosidade mórbida quando anunciaram o filme – que no momento inicial parecia ser uma bomba – e ficou com essa vontade misteriosa, a cada imagem divulgada? Tudo que está sendo divulgado irradia essa sensação de que foi feito por pessoas capacitadas – e o John em cena vestido de sereia – para pessoas que querem se divertir! E pelo que tenho ‘visto nas internet’ já começou aquele debate de ‘esse filme não se leva a sério e tem uma mensagem muito jogada na cara’, como se tudo tivesse que se levar a sério. No cotidiano, pessoas assistem a filmes recreativamente porque querem uma horinha pra se desligarem de tanto caos e incerteza que somos forçados a engolir na rotina. E lá no fundo, todos queremos nos divertir com amigos, apesar de que muitos insistam em tornar isso um crime, e se um filme inspirado numa boneca está nos fazendo perceber isso, fico muito feliz!”
E acrescenta uma curiosidade pessoal relacionada aos envolvidos com a produção do filme. “Quando soube que o Noah Baumbach estava assinando o roteiro e até agora ele só fez ‘depressão, o filme’, quero muito ver o que ele vai fazer acontecer.” Mas a história de Felipe não se conclui em expectativas, e o que um dia foi um convite entre poucos amigos, hoje, tornou-se uma “caravana” com guia e camisetas personalizadas.
A preparação para o evento
Com um grupo composto por 50 pessoas, o advogado conta que a ideia era se divertir com os amigos, mas que o grupo, agora denominado de “caravana”, foi tomando outras proporções enquanto aguardavam o lançamento. “Acho que nunca tivemos o ímpeto de ser uma caravana. Parece engraçado chegar a esse ponto, mas eu só coloquei o nome de ‘caravana’ porque nosso número acabou ficando comicamente grande. Temos umas 50 pessoas num grupo unificado, mas contando com agregados, devemos passar de 50. A ideia sempre foi nos divertirmos com nossos amigos e acabamos abraçando amigos de amigos”, afirma.
Segundo ele, fazer uma guia de orçamento e camisetas para assistir ao filme foram ideias pensadas para tornar tudo mais divertido. “Produzir o guia em PDF foi bem natural mesmo. Eu imaginei que teríamos que fazer uma revisão de orçamento para juntarmos os Pix de todos e pensei ‘meu deus, como raios eu convencerei meus amigos a lerem um orçamento?’ Então tirei um tempinho e fiz algo que me divertiria, caso precisasse ler. Quanto às camisetas, parece que tivemos muito tempo, mas tivemos bem pouco e nossa criatividade acabou por aí, e é surpresa para o momento. Fizemos individualmente, sem um saber qual é a do outro, e queremos revelar no dia”.
Os fãs Mayck e Sandra também adotaram suas estratégias, reuniram os amigos e planejaram looks especiais para a data de hoje, como ressalta Mayck. “É um momento importante para mim, eu estou mobilizando o pessoal que está mais próximo de mim para irmos juntos,vai ser uma experiência legal. E eu estou com a expectativa muito alta, porque eu quero saber como que eles vão tratar todo esse multiverso da Barbie e abordar uns temas mais delicados, né? Tem várias Barbies lá, e eu quero saber como que vai ser tratado tudo isso no filme, como que eles vão levar esse assunto e ainda deixar o filme divertido.”
Para Sandra, roupas, locomoção e amigas, foram itens essenciais e organizados com antecedência. “Reuni um grupo de amigas e fomos todas às compras. E assim, baseada no estilo e do jeito de ser de cada uma, compramos os ‘modelitos’ inspirados nas várias versões da Barbie”. A jornalista Cláudia Cavalcante, amiga de Sandra e fã da boneca, comenta sobre a expectativa alta e ânimo em aderir ao Barbieverso por um dia. “Fiquei super animada, só de imaginar em ver minha boneca preferida quando criança agora sendo real, me fez lembrar de minha infância. E vou aderir ao mundo Barbie, por um dia, durante o lançamento do filme. Serei a Barbie, com vestido, calçado, acessórios, make, tudo que tenho direito! (risos)”. E sobre o automóvel que utilizarão para chegar ao lançamento: “Como não poderia deixar de ser, combinamos de ir à estreia em alto estilo, a bordo do Barbiemóvel”, afirma Sandra
Por – Ana Cavalcante
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Confira as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram.