Volta aos palcos marca renascimento de artista, após violência em pleno Centro da Capital
A arte segue viva, mesmo que a violência tente derrubar seus representantes. O poeta, cantor e compositor Begèt de Lucena traz de volta toda a sua arte e performance, após passar por uma provação, que quase calou a sua voz: em outubro de 2024 ele foi vítima de uma agressão, que o deixou em coma. Agora, recuperado, ele volta das cinzas para apresentar seu novo trabalho ‘Pau, Pedra e Corda’, nesta sexta-feira (31).
No dia 11 de outubro – inclusive no mesmo dia em que lançava o clipe da música ‘De Primeira’, gravado na Avenida Paulista – o artista foi vítima de um esfaqueamento na madrugada, no cruzamento das ruas 14 de julho com a General Melo, no centro de Campo Grande. Begèt foi internado, passou por cirurgia, precisou ser intubado, chegou a entrar em como e recebeu alta após 13 dias.
Em conversa com o jornal O Estado, o multiartista disse que se lembra muito bem da dinâmica do atentado, ocorrido na região de bares do centro. “Foi de uma forma muito aleatória e de repente. Eu estava retornando quando uma das pessoas passou por mim”.
Após a alta, foram três meses de recuperação, sempre perto da família e amigos. Mesmo com a lembrança da violência ainda fresca na cabeça, ele diz que essas memórias não o influenciam no agora. “Eu procuro deixar onde está, não fico trazendo para os meus dias, porque foi um momento muito violento. E não tenho vontade de ficar revisitando esse momento. Para agora mesmo, só alegria e agradecimento pela boa recuperação que tive; e seguir fazendo o que amo fazer, que é meu ofício de cantar”, explicou.
Com a violência sofrida, e a recuperação, Begèt entende que a experiência serviu para se questionar e entender seus propósitos. “Ter sido içado para esse período de recuperação, me trouxe a calmaria que eu precisava, a tranquilidade. Acredito que isso, dos males, a melhor coisa foi essa, ter me reorganizado, agradecer por ter sido mantido”, destacou.
Muitas vezes, o cenário noturno de uma cidade, nem sempre é seguro, e isso pode piorar para quem faz parte de alguma minoria. O atentado a Begèt é o retrato de um cenário que pode ser assustador, onde pessoas do meio cultural não se sentem acolhidas em espaços públicos.
Para o artista, a cultura e arte é o que movimenta uma cidade, mas com isso também pode surgir a violência. “A arte, a cultura tem um lugar de movimentação e Campo Grande tem acompanhado isso. Só que com isso, vem a violencia e seus meandros, que permeiam esse tempo e lugar. Acho que assim como o crescimento da cidade, e surgimento desses novos espaços da cultura, também tem que ser pensadas políticas de segurança para todos. Acredito que falta sim uma atenção das políticas públicas com relação à segurança e movimento dos artistas LGBTQIAPN+”, opina.
Ele ainda comenta que torce para que o episódio tenha despertado no poder público e para as pessoas que transitam, a questão da segurança. “O ambiente em que fui atacado é ali um início de movimento boêmio, com a presença de alguns bares, casas de shows. Espero que tenha trazido a atenção que merecia para esse local, no sentido de preservação mesmo. E de cuidado para o aumento da segurança das pessoas que transitam por lá. É isso que espero”.
Das cinzas, a fênix
Mesmo com tudo que aconteceu, Begèt não se deixou silenciar nem oprimir. Nesta sexta-feira (31) o cantor estará de volta aos palcos, para apresentar seu novo trabalho, ‘Pau, Pedra e Corda’, show que irá explorar toda sua poesia e cultura brasileira. Para ele, o retorno marca uma das características da música: o poder de cura.
“É chegada a hora do retorno, de provar sua Força Bruta. O Cygano — que tem andado pelas ruas do mundo — bebe de suas raizes pernambucanas em águas sul-matogrossenses para cantar suas dores e amores. Um show abraçado por poesia, fumaça, dor & microfonia”, diz o anuncio do espetáculo.
“Tenho uma relação muito profunda com a música. E encaro meu trabalho no palco, meu trabalho com a música como um ofício mesmo. Tem esse sentido de nova ordem, essa nova chance de vida, de ter sido mantido com proteção. Nesse evento trágico, esse acidente, esse atentado. Me sinto muito mais agraciado. Será um momento muito importante, muito significativo para mim, no dia 31. De estar no palco, podendo revisitar canções de amor, canções que falam sobre esse poder, sabe? De cura”.
O novo trabalho representa um novo momento em sua vida, mas o sonho dessa produção é antigo. “Tenho 15 anos de carreira, e o show ‘Pau, Pedra e Corda é um sonho antigo, de botar no palco essa fusão das cordas e as percussões ritmadas, trazendo os ritmos brasileiros, é um passeio aplicado pela poesia do Brasil Profundo. Nas minhas raízes pernambucanas e essa simbiose dos instrumentos, essa coisa mais crua, buscando trazer os ritmos brasileiros, chachado, xote, maracatu, e quem conhece meu trabalho sabe dessa minha poética”, disse.
“Será meu primeiro grande show depois do ocorrido. Estou preparando um espetáculo muito emocionante; estou pronto, com muita vontade de fazer, e espero encontrar todo mundo, fazendo o que mais amo fazer, que é cantar, aplicando esse passei pela poesia brasileira”.
Para finalizar, o artista aconselha: resiliência e perseverança são a chave. “Mato Grosso do Sul é um celeiro de cultura, é um ponto de chegada e partida, de encontro de culturas. Eu enfrento isso a 15 anos e acredito na potência cultural desse estado, na potência das pessoas, dos artistas sobretudo, que movimentam seus meios em todo o mundo. Quero poder demonstrar com a força do meu trabalho, da minha perseverança, essa resiliência, que é muito necessária. É muito mais fácil você ser o que você é, do que você não ser. E isso eu trago para minha vida como um todo é impossível eu não seja o artista que sou, que eu não viva sendo o artista que sou. Eu sou dormindo. E, espero que todos os artistas aqui nessa terra, tenham, esse foco, de resiliência, para enfrentar a vida, e o mundo podendo ser, e fazer no ofício que nos foi dado”.
Serviço: O show Pau, Pedra e Corda será realizado hoje (31), às 20h, na Estação Cultural Teatro do Mundo, localizada na Rua Barão de Melgaço, nº 177, no Centro de Campo Grande. Informações sobre os ingressos podem ser obtidas pelo número (67) 99696-9774, ou por meio do link https://www.sympla.com.br/evento/pau-pedra-corda-show-beget-de-lucena/2799589
Por Carolina Rampi