Consciência Negra: Data tem comemorações e atividades culturais para dar visibilidade à luta pela igualdade racial

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Imagem: Reprodução/Nilson Figueiredo

Hoje (20), é celebrado o Dia da Consciência Negra, que visa combater o racismo e dar visibilidade à luta pela igualdade racial. A data escolhida, 20 de novembro, remete a Zumbi, líder do Quilombo de Palmares, que morreu nesse dia, em 1695.

Em Campo Grande, teremos eventos festivos em alusão à data. A titular da CPPIR (Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), Rosana Anunciação Franco, explica que o termo “Consciência Negra” ganhou notoriedade na década de 1970, no Brasil, em razão da luta de movimentos sociais que atuavam pela igualdade racial”.

O termo é, ao mesmo tempo, uma referência e uma homenagem à cultura ancestral do povo de origem africana. É o símbolo da luta, da resistência e a consciência de que a negritude não é inferior, que o negro tem seu valor e seu lugar na sociedade, vem com o sentimento de aclamação e aceitação das origens africanas na formação do povo brasileiro.”

Sarau no Parque

O Sarau no Parque, evento realizado todos os domingos nos parques de Campo Grande, hoje será temático e realizado na Comunidade Tia Eva, com atrações de música, dança, artes visuais, roda de capoeira, e muito mais.

“É simbólico e fundamental a gente realizar essa edição na comunidade tradicional quilombola que é a mais antiga de MS. O Estado tem 22 comunidades remanescentes de quilombola, Tia Eva é a mais antiga e, portanto, uma das mais conhecidas, pelo menos na fala das pessoas, mas ainda pouco visitada”, pontua o titular da Secic (Secretaria de Estado de Cidadania e Cultura), Eduardo Romero.

Festival Expressão de Rua

Hoje, também será realizado o Festival Expressão de Rua, que começou ontem (19), no Jardim Anache, e hoje chega à Arena da Vila Nasser, em alusão ao Dia da Consciência Negra. O evento vai contar com atrações do rap, rock, samba, além de intervenções de grafite, circo, teatro, entre outras expressões artísticas que ocupam a rua.

“Precisamos de eventos com o hip hop e manifestações de rua como protagonistas, pois não são simples entretenimento, fazem parte da formação política dos artistas e cidadãos, inerente à formação humana. Esses artistas são escolhidos porque muitas vezes não tem a oportunidade de participar de grandes festivais proporcionados pelo Estado, não ganham cachê, não tocam num palco decente e legal, queremos gerar essa oportunidade a eles, até para que consigam portfólio e possam vir a fazer parte deste circuito”, pontua Fernanda Bagordakis, coprodutora do evento.

Feira Povos de Terreiro

É realizada na Esplanada Ferroviária a 1º Feira Cultural dos Povos de Terreiro MS Ajô Nilê, com o tema “O empoderamento do nosso povo e a Consciência Negra”, que neste domingo, vai outorgar títulos de Doutor Honoris Causa a personalidades campo-grandenses. Entre elas, está o jornalista Rafael Belo, do jornal O Estado.

“É uma honra ter esse reconhecimento. É prova que conhecimento e persistência aliados à cultura e educação nos levam para onde quisermos. Devo toda minha base de acolhimento e respeito a todas as pessoas aos meu pais e minhas irmãs. Hoje busco ainda mais o melhor, para muitos que têm a gente como referência. Receber este título hoje é motivo, sim, de orgulho e de que Deus tem sempre planos melhores para nós. E, é claro, minha esposa e minha filha que sempre me inspiram a aprender e melhorar como ser humano”, declara Belo.

Mural Tia Eva

Outro trabalho que, embora não seja uma “festa”, mas uma grande homenagem, é o mural que está sendo pintado na Galeria São José, bem no centro da Capital, e retrata uma das mulheres mais icônicas e importantes de Campo Grande, e, ironicamente, não muito lembrada. A história de Tia Eva que, muito embora seja considerada –à margem da história – como uma das fundadoras de Campo Grande, não é muito conhecida dos campo-grandenses.

Nem mesmo há um único retrato sequer da mulher que veio para o Centro-oeste do país fugindo da escravidão e em busca de um recomeço, e aqui se estabeleceu e criou raízes.

O artista visual Diego Mouro, de São Paulo (SP), 34 anos, que realiza trabalhos voltados à representatividade, é o responsável pela obra. “Estou pintando a Tia Eva, uma personalidade preta aqui de Campo Grande, meu trabalho é sobre representatividade, sobre exaltar esse passado cultural negro que a gente tem na história do país, então eu estou falando um pouco dessa personalidade campo-grandense, que é importante e tem a história um pouco apagada por aqui”, comenta.

“Eu como muralista, acredito muito que o muralismo faz parte do processo de democratização da arte. Tirar a arte de dentro dos museus, desses lugares inacessíveis, e a colocar em contato com as pessoas, criar essa conversa e essa relação com elas, para que elas possam se sentir tocadas ou não, impactadas ou não, mas que gere uma conversa com a sociedade e com o entorno. É importante que as pessoas possam ter contato –além da arte– com esse rosto da Tia Eva. Que elas possam, de alguma forma, criar esse imaginário sobre ela”, explica.

A historiadora Vânia Lúcia Baptista Duarte é descendente de Tia Eva – sendo sua tataraneta–, e comenta sobre o mural da 14 de Julho.

“Ainda tem pessoas aqui da nossa cidade que não conhecem a história de Tia Eva, quem é ela. Ter a figura da Tia Eva representada por meio de uma obra de arte, em uma das avenidas principais de Campo Grande, para nós, é muito importante, é toda uma representação, todo um simbolismo e remete a ‘quem é a Tia Eva?’. Para aquelas pessoas que não conhecem, abre-se um questionamento”.

E Vânia vai além, sobre a questão do reconhecimento histórico: “Essas obras representam a história da nossa sociedade, porque quando falamos de Tia Eva, famos da formação de Campo Grande. E assim, outros atores, fundadores e co-fundadores precisam ser representados, para que não seja uma história única”, afirma.

Por Méri Oliveira – Jornal O Estado de MS.

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