Corumbá de volta às telonas

Foto: Maria Eduarda Metran
Foto: Maria Eduarda Metran

Após 22 anos sem exibições cinematográficas, Cidade Branca terá duas salas de cinema em casarão histórico

 

Corumbá, a “cidade branca” e berço do cinema sul-mato-grossense, carrega uma rica história cinematográfica. De acordo com pesquisas, foi a primeira cidade do estado a receber um cinematógrafo, por volta de 1903, quando o diretor de um circo trouxe a novidade do Rio de Janeiro. Após a era dos cinemas Cine Tupi, Santa Cruz e Anache, Corumbá viveu 22 anos sem exibição de filmes, mas agora, a cidade se prepara para reviver sua tradição cultural, com a inauguração de duas novas salas de cinema no centro, trazendo de volta a magia do cinema ao coração da cidade.

O projeto de trazer o cinema de volta a Corumbá tem como responsável o empresário gaúcho Sílvio Brandolt, de 64 anos, proprietário da empresa Cine Vision. Inicialmente, a intenção da empresa era investir em uma cidade do sul do país, mas, ao visitar Corumbá pela primeira vez, Brandolt foi surpreendido ao constatar que a cidade não possuía um espaço dedicado à exibição de filmes.

O prédio que abrigará a infraestrutura do cinema é um casarão de mais de 150 anos, tombado como patrimônio histórico, localizado na Avenida General Rondon, no Centro de Corumbá, em frente ao Rio Paraguai. O investimento, que soma R$ 1,8 milhão em obras, será destinado à adaptação do edifício para abrigar duas salas de cinema, além de banheiros, bilheteiras e outros espaços necessários. As salas terão capacidade para receber de 120 a 154 pessoas por sessão, com a previsão de que inicialmente uma delas entre em operação, enquanto a segunda será montada posteriormente.

As exibições serão realizadas em duas ou três sessões, e o áudio será em 7.1, proporcionando uma experiência mais imersiva e realista para o público. O local será equipado, com iluminação adequada, saídas de emergência, ar-condicionado e poltronas confortáveis. O objetivo é oferecer uma experiência cinematográfica única e inesquecível para todos que passarem por lá.

CineVision em Ação!

Foto: Site Diário Corumbaense

A empresa Cine Vision iniciou sua trajetória através de uma família de comerciantes no setor cinematográfico, começando com Ewerton, filho de Sílvio e Cristiane, que abriu seu primeiro cinema em Montenegro/RS, em 2014. Posteriormente, expandiu seus negócios para Capão da Canoa/RS, Sombrio/SC e Criciúma/SC, todas sob a marca Cine Mais Arte. Em 2017, Silvio e Cristiane, agora como sócios, inauguraram o primeiro cinema da rede Cult Cinemas, em Cruz Alta/RS, e logo abriram novas unidades em Ijuí/RS, Alegrete/RS e Santiago/RS. No ano passado, uma alteração societária resultou na criação do Cine Prime, que atualmente opera em Ijuí/RS e se prepara para inaugurar unidades em Panambi/RS e Corumbá/MS.

Para a reportagem do Jornal O Estado, o CEO da Cine Vision em Corumbá, Josias Maier e também representante do investidor da companhia cinematográfica, Sílvio Brandolt, destacou que a construção para o cinema já está em andamento. Prevista para estrear em três meses, os empresários já planejam estrategias eficientes para uma programação rica para os corumbaenses.

“A programação do cinema em Corumbá incluirá os principais filmes nacionais e internacionais, com exibição simultânea aos lançamentos em outros países. A divulgação será feita principalmente por meio das redes sociais, mas futuramente serão avaliadas outras formas. Quanto aos filmes, o cinema exibirá todos os sucessos atuais, com estreias já programadas para a inauguração”.

A equipe responsável pelo cinema em Corumbá procurou, inicialmente, a Secretaria de Cultura para realizar parcerias com às escolas do município, para os estudantes poderem ter acesso. Ao longo do tempo, serão desenvolvidos planos e projetos para incentivar a presença das crianças no cinema.

“Considerando que Corumbá não possui um cinema, muitos alunos terão sua primeira experiência com as exibições cinematográficas por meio das escolas, o objetivo é proporcionar uma vivência cultural enriquecedora, abordando temas como dança, diversidade e outras manifestações culturais. Conforme o projeto se desenvolve, serão definidas metas e ações para garantir que essa iniciativa se torne um programa contínuo”, destacam.

Para Josias e Sílvio, ambos esperam que a população, assim como eles, possa se beneficiar e aproveitar a nova opção de lazer que está sendo criada para a cidade. A programação será diversificada, com uma ampla gama de filmes, e a expectativa é que a comunidade aprecie e prestigie as exibições.

“A proposta é promover uma troca cultural, compartilhando a cultura do sul com os corumbaenses. A importância de levar o cinema para o Pantanal é uma oportunidade de proporcionar algo mágico à região. O cinema tem o poder único de unir as pessoas, de criar momentos de compartilhamento e conexão”, afirmam.

História em Telonas

Foto: Acervo Fundação da Cultura

Os antigos cinemas Tupi, Santa Cruz e Anache, tradicionais em Corumbá, agora fazem parte do passado, deixando uma marca histórica e muita saudade na memória dos moradores. Ao longo de suas bicentenárias existências, Corumbá e Ladário já contaram com mais de 15 cinemas, conforme apontam pesquisas, sendo testemunhas de uma rica trajetória cultural na região.

O Cine Anache, fundado pela família Farjalla Anache, era reconhecido por suas inovações tecnológicas, como o som estéreo e o ar-condicionado, que marcaram sua época. Sua inauguração, com a exibição do sucesso “Pantera Cor de Rosa”, consolidou o cinema como um dos principais pontos de lazer da cidade. O Cine Anache viveu sua fase de ouro exibindo grandes sucessos do cinema mundial e sendo palco de shows memoráveis. Após uma reforma nos anos 90, o cinema reabriu suas portas em 2000 com um espetáculo do cantor Belchior, mas encerrou suas atividades definitivamente em 2002, tornando-se o último cinema em funcionamento em Corumbá e deixando uma grande saudade entre os corumbaenses.

O Cine Tupi, que funcionou durante a década de 60 em Corumbá, era um dos principais pontos de entretenimento da cidade branca. Localizado no edifício Salim Kassar, no Centro de Corumbá, o cinema ocupava os primeiros andares do prédio e o fundo da edificação. O grande destaque do Cine Tupi estava nas paredes laterais à tela de projeção, que exibiam um valioso painel artístico em alto-relevo iluminado por néon.

Conforme o site oficial do IBGE, A obra representava cenas regionais, com destaque para os habitantes indígenas, a fauna e a flora do Pantanal. Durante sua fase áurea, o cinema recebeu grandes nomes da Música Popular Brasileira, como Elis Regina e o Zimbo Trio, entre outros. Após anos de funcionamento, suas instalações foram fechadas e, posteriormente, destruídas por um incêndio, supostamente causado por um cigarro lançado do alto do edifício.

Zulmira de Fátima Ferreira, servidora aposentada de 70 anos e nascida em Corumbá, compartilha sua primeira experiência no Cine Tupi, uma época em que a moeda local ainda era o Cruzeiro. Para ela, o cinema era mais do que um simples local para assistir filmes. “O primeiro filme que assisti foi ‘Diga Que Eu Te Amo’. Eu ia com minhas irmãs e com meu irmão. Na época, o cinema era um ponto de encontro para amigos e casais, e também ficávamos na porta trocando gibis por ingressos. Era por volta dos anos 60, e eu tinha 13 anos”, lembra.

Segundo o site Diário Online, o Cine Santa Cruz foi um dos mais antigos cinemas da cidade e ha pouco registros sobre. Foi inaugurado em 1942 e permaneceu em funcionamento por três décadas, até ser demolido nos anos 70 para dar lugar a uma agência bancária na Rua Delamare, entre Frei Mariano e 15 de Novembro. Durante sua existência, o cinema foi palco de grandes apresentações, incluindo shows de artistas como Nelson Gonçalves e Ângela Maria. Além das exibições cinematográficas, o Cine Santa Cruz também abrigava lutas de boxe.

 

Amanda Ferreira

Confira as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *