Curta de animação resgata memórias indígenas e estimula reflexão social, relatada em português e Guarani

Foto: assessoria
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Diversidade cultural, inclusão e resiliência. Essas são as características da animação ‘+ Forte’, da diretora Ara Martins, que resgata a memória de histórias entre Brasil e Paraguai, por meio de relatos de indígenas. Com duração de seis minutos, o filme foi produzido por uma equipe majoritariamente composta por artistas de Mato Grosso do Sul e traz para as telas uma forte reflexão sobre a importância de respeitar as diferenças e valorizar as raízes culturais. A estreia será no dia 27 de fevereiro, às 19h, no canal do YouTube da diretora, e em abril haverá exibição nos municípios de Amambai e Campo Grande.

Na trama, uma jovem indígena enfrenta seu primeiro dia de aula em uma escola fora da aldeia e, ao levar uma comida típica como lanche, é alvo de bullying por ser diferente. Sentindo-se isolada e desconectada, ela busca força na sabedoria de seu avô, que a ajuda a entender que sua identidade cultural é sua maior força.

A ideia para o curta nasceu após uma visita à aldeia indígena Paraguaçu, em Paranhos, na fronteira entre Brasil e Paraguai. Essa região, marcada historicamente por disputas territoriais e culturais, possui memórias profundas das interações entre indígenas, portugueses e espanhóis. Para a diretora, o local tem um significado especial, já que seu pai, o historiador Gilson Rodolfo Martins, realizou estudos que comprovaram a presença contínua de povos indígenas nessa terra ao longo de séculos. “Essa região é rica em histórias de resistência. Foi emocionante perceber como a força desse povo ainda vive ali”, destaca.

O filme também resgata a memória do Forte Iguatemi, uma construção histórica erguida em 1767 pelos portugueses, mas que nunca foi concluída. Essa história é contada a partir do ponto de vista dos indígenas, com base em uma pesquisa acadêmica conduzida por Ana Maria do Perpétuo Socorro dos Santos, pesquisadora da Unicamp. A partir de entrevistas com os anciãos da aldeia Paraguaçu, a pesquisadora documentou memórias orais que atravessaram gerações. “Esses relatos nos permitem enxergar a história sob outra perspectiva. Trouxemos essa riqueza cultural para o filme através da voz do avô da protagonista, que simboliza o saber ancestral dos povos indígenas”, explica a diretora.

Diversidade linguística

Um dos aspectos mais marcantes de + Forte é que a narrativa do avô, que representa a memória ancestral indígena, é contada em Guarani, língua falada pelos povos originários da região. A voz foi interpretada pelo indígena da aldeia Paraguaçu, visando registrar de forma autêntica a história da comunidade. Além disso, o bilinguismo do filme reflete a realidade linguística do Brasil e garante que ele possa ser exibido dentro da própria aldeia Paraguaçu, proporcionando uma experiência significativa para os moradores locais. A interpretação e tradução para o Guarani são de autoria de Huto Vera.

Essa escolha não apenas valoriza a diversidade cultural, mas também reforça a mensagem central do filme: a união na diversidade e o respeito às vozes historicamente silenciadas.

Uma história de superação na produção

Assim como o tema central do filme, a produção de + Forte também foi marcada pela resiliência. A equipe enfrentou desafios comuns ao processo de animação, que é longo, trabalhoso e custoso. “Houve momentos em que parecia impossível concluir o filme. Mas me inspirei na mensagem da própria história e na resiliência indígena para continuar”, relembra a diretora. Com a prorrogação do prazo pela Lei Paulo Gustavo, o curta foi concluído com sucesso.

Exibição e acessibilidade

+ Forte será disponibilizado gratuitamente na TVE (TV Educativa), do Governo do Estado, e doado para a Secretaria de Educação do município de Paranhos, onde será utilizado como ferramenta educativa nas escolas locais. O filme conta com acessibilidade comunicacional completa, incluindo Libras, legendas descritivas e audiodescrição, garantindo que sua mensagem alcance um público ainda mais amplo.

Histórico

Ara Martins não é iniciante em contar histórias de Mato Grosso do Sul em formato de animação. Em 2023 ela lançou o curta ‘A Menina e a Árvore’, inspirado na poesia de Manoel de Barros, abordando a conscientização ambiental e riquezas culturais do Pantanal. No ano passado o curta-metragem foi selecionado entre mais de 800 filmes de 47 países para participar do Frome International Climate Film Festival, no Reino Unido. Além disso, o curta também foi exibido em escolas, proporcionando a democratização ao cinema e a oportunidade das novas gerações conhecerem a poesia de Manoel de Barros.

Ficha Técnica

Com direção, produção e roteiro de Ara Martins, direção de arte fica por conta de Ana Luisa Andrade. Já a direção de animação foi divida por cenas, sendo as da escola por Fernando Ferpulha e da reconstrução histórica por Flávio Sobreira. As ilustrações são das artistas Natalia Gassner e Syunoi.

Serviço: A estreia da animação + Forte será no dia 27 de fevereiro (quinta-feira), às 19h, no canal do YouTube, por meio do link https://www.youtube.com/@aradeandrademartins7287

Por Carolina Rampi 

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