O espaço cultural oferece sessões gratuitas nos dias 3, 4 e 5 de dezembro em iniciativa paralela ao circuito nacional
O tradicional Festival de Cinema Francês no Brasil, que anualmente percorre diversas capitais do país, deixou Campo Grande de fora de sua edição mais recente. A ausência causou surpresa e frustração entre artistas, produtores e apreciadores da sétima arte na cidade. Contudo, a resposta veio não em forma de reclamação, mas de criação: a Estação Cultural Teatro do Mundo decidiu transformar o silêncio em movimento, lançando um festival paralelo como gesto de protesto, afeto e resistência cultural.
Nasce assim o FRANCOFFF – Festival de Films en Français, que acontece nos dias 03, 04 e 05 de dezembro, com entrada franca. A iniciativa reafirma que “acesso à arte não se pede, se faz”, reforçando a potência criativa de Campo Grande e seu direito a ocupar a cena cinematográfica francófona. A realização é da Estação Cultural Teatro do Mundo, com produção de Helena Soares e Fernando Lopes, curadoria de Helena Soares e Neila Janes, e direção de arte assinada por Flávia Paniago. O evento convida o público a comparecer, ocupar e divulgar, um chamado coletivo para manter viva a circulação cultural fora dos grandes eixos.
A programação reúne três noites dedicadas à sensibilidade humana e às diversas formas de contar histórias. No dia 03 de dezembro, abre o festival o longa “Você pode me ouvir?” (2021), (On est fait pour s’entendre), um drama que explora com delicadeza temas como escuta, silêncio e reconexão. No dia 04, é exibido “É tempo de amar” (2025), (Le temps d’aimer), romance arrebatador que atravessa memórias e cicatrizes do pós-guerra.
Encerrando o ciclo, no dia 05, o público assiste a “Tudo ou nada” (2023), (Rien à perdre), um retrato forte e contemporâneo de uma mãe enfrentando o sistema em nome da dignidade.
As sessões acontecem sempre às 19h, na própria Estação Cultural Teatro do Mundo, localizada na Rua Barão de Melgaço, 177. Com entrada gratuita, o FRANCOFFF se consolida como uma resposta poética e firme ao apagamento cultural: se o festival não veio até Campo Grande, Campo Grande inventou o seu. Uma mostra produzida com teimosia artística, senso de comunidade e a certeza de que a cidade também pensa, cria e merece cinema.
Ausência em Campo Grande
O produtor Fernando Lopes explicou para a reportagem que a motivação para criar o FRANCOFFF surgiu da decepção coletiva ao perceber que, pela primeira vez em muitos anos, Campo Grande ficaria de fora do circuito do Festival de Cinema Francês no Brasil. O antigo Varilux sempre contou com público fiel na cidade, e a ausência inesperada levou a equipe da Estação Cultural Teatro do Mundo a transformar frustração em ação. A proposta curatorial do festival paralelo, portanto, nasce desse desejo de afirmar a presença cultural da capital e de manter viva a relação do público com o cinema francófono, ainda que fora do circuito comercial tradicional.
“O antigo Varilux sempre vinha para Campo Grande. Nós éramos assíduos no cinema, não só eu como um grupo de pessoas, e ficamos muito decepcionados quando o Festival do Cinema Francês no Brasil não vinha para cá. Então resolvemos fazer uma brincadeira com caráter de protesto, lembrando as pessoas que nós estamos aqui, gostamos de cinema e queríamos fazer parte do festival, que não veio, o Cinemark não comprou. Então estamos fazendo esse paralelo, o FRANCOFFF com três filmes nos dias 3, 4 e 5, sempre às 19h, na Estação Cultural Teatro do Mundo. Vamos estar entre amigos celebrando o cinema”, explica.
Fernando explicou que o FRANCOFFF nasceu não apenas como alternativa ao Festival de Cinema Francês no Brasil, mas como um gesto claro de protesto cultural. “A gente de fato está protestando. Um protesto feliz e celebrante, mas um protesto”, afirma.
Segundo ele, a iniciativa busca lembrar autoridades e agentes culturais de que Campo Grande é uma capital com um público expressivo e interessado em arte. Essa mesma motivação, diz Lopes, é o que mantém viva a Estação Cultural Teatro do Mundo e sua programação permanente, incluindo o Cine Teatro Estação, que há anos abastece a cidade com cinema fora dos circuitos comerciais.
A criação do festival veio como reação imediata à notícia de que a mostra não passaria por Campo Grande, apesar de estar confirmada para cidades como Corumbá e Cuiabá. “Ficamos consternados. Como assim não vai ter aqui?”, recorda o produtor. A indignação, porém, transformou-se em ação criativa: “A gente vai fazer o nosso festival. Assim surgiu o FRANCOFFF, uma resposta afetiva, teimosa e politizada”, destaca.
Curadoria
A seleção dos filmes do FRANCOFFF seguiu um processo profundamente afetivo e cuidadoso, conduzido pelas curadoras Helena Soares, artista, atriz e professora de francês e Neila Janis, arquiteta e artista com amplo repertório cinematográfico. Segundo a produção, as duas se dedicaram a escolher obras que dialogasse diretamente com a humanidade em suas múltiplas formas.
“Nosso critério eram filmes que falavam do humano, das transformações, das dores, dos amores”, explica Fernando. O resultado são três títulos que tocam questões universais e que, para a equipe, representam exatamente o espírito do festival: cinema como encontro, reflexão e emoção.
Do ponto de vista da produção, a equipe do FRANCOFFF encarou o desafio de montar um festival paralelo em pouco tempo não como obstáculo, mas como parte do espírito que move o evento. Fernando Lopes explica que todo o processo foi guiado pelo mesmo impulso de celebração que sustenta a existência da Estação Cultural Teatro do Mundo: o desejo de estar junto, de ocupar a sala escura, de lembrar por que vamos ao cinema.
“Quando alguém diz que em Campo Grande não tem nada, nossa resposta é: faz alguma coisa”, afirma. Assim, o caráter de protesto se soma à vontade de oferecer à cidade uma alternativa concreta, garantindo que quem gosta de cinema tenha acesso a bons filmes em uma sala dedicada, no caso, o Cine Teatro Estação.
A Estação Cultural Teatro do Mundo, que completou três anos, consolidou-se como um espaço essencial para a cena artística de Campo Grande. Mais do que resistência, representa existência cultural, abrigando teatro, dança, artes visuais e cinema.
“A Estação é importante para a cidade e para nós como artistas. Eu, a Helena e a Neila estamos juntos para manter o espaço aberto. O FrancOff é um desses acontecimentos que ajudam a sustentar a estação. Mesmo com entrada gratuita, o movimento das pessoas, o café, a boutique e a divulgação mantêm o espaço vivo, e estamos buscando parceiros que queiram apoiar o nosso trabalho, porque a estação já provou ser necessária para a cidade”, finaliza Fernando.
Serviço: O FRANCOFFF – Festival de Films en Français acontece nos dias 03, 04 e 05 de dezembro na Estação Cultural Teatro do Mundo, localizada na Rua Barão de Melgaço, 177, Centro. As sessões começam sempre às 19h e a entrada é franca.
Amanda Ferreira