Cultura ancestral será celebrada com muita música, arte, gastronomia e desfile de moda
A ancestralidade é tudo aquilo que nos conecta com o nosso passado, e pode revelar nossas origens e os que formou nossa cultura, gostos e tradições. Uma das características que sempre caminhou com a ancestralidade é a moda, que hoje, é responsável por manifestar esse passado, por meio de texturas, cores, tecidos, padrões, que podem revelar as habilidades artesanais de um povo, aspectos religiosos e até símbolos de resistência.
O Projeto Niara, é um dos responsáveis por trazer a ancestralidade por meio da moda em Campo Grande, na Comunidade Quilombola Descendentes Tia Eva. Nascido da vontade de um grupo de professores em promover a mudança por meio da construção e consagração da identidade afro-brasileira em Mato Grosso do Sul, o objetivo é impactar comunidades quilombolas utilizando da moda, expressões artísticas e culturais e transmitir os valores das tradições e identidade da cultura originária.
“A moda ancestral desempenha um papel relevante na promoção da autoestima e no empoderamento da comunidade. Ao criar peças únicas e autênticas que refletem a identidade cultural e a história do povo quilombola, valorizamos a diversidade e riqueza da cultura afro-brasileira”, relata o proponente e coordenador geral do Projeto Niara, o professor Eduardo Inácio Alves.
Conforme Eduardo, o projeto foi estruturado para que os participantes pudessem criar peças de roupas que resgatassem essas raízes, valorizando a estética, os padrões e as cores da cultura africana e afro-brasileira. “É uma conexão com a Comunidade Quilombola Descendentes Tia Eva. Foi um trabalho de ressignificação e empoderamento, trazendo para o cenário da moda elementos que representam a força e a beleza da nossa cultura”.
A estamparia manual e outras técnicas ancestrais foram um dos ensinamentos trabalhados pelos alunos, que confeccionaram suas peças com padrões específicos.
“A utilização dessas práticas tradicionais não apenas reforçou a conexão com a ancestralidade e a identidade afro-brasileira, mas também promoveu a valorização da cultura e da arte manual. Tivemos a oportunidade de receber a estilista carioca Karine Priscila que trabalha com essa técnica em suas criações, foi um momento memorável, onde ela pode passar todo conhecimento técnico e ancestral fazendo com que todos nos conectássemos com nossas raízes culturais, valorizando a herança e o legado de nossos antepassados”.
Resultados e Festival Niara
Com as peças feitas ao longo do ano, os alunos do projeto irão apresentar suas produções de corte, costura e estamparia em um desfile de moda nesta quarta-feira (20), em local emblemático. A passarela será montada na rua Eva Maria de Jesus, na Comunidade Tia Eva, em Campo Grande, durante o Festival Niara. Além disso, o festival foi marcado no Dia da Consciência Negra, que neste ano será o primeiro como feriado nacional. O festival contará com apresentações culturais, roda de conversa com o tema ‘Costurando Novas perspectivas de ancestralidade cultural’, com Victor Macaulin, Maria Carol, Fernando Cruz, SoulRa, Rosângela Nascimento e CJ, gastronomia e artesanato, a partir das 17h, na Comunidade Tia Eva, até a meia noite.
A cantora Dany Cristinne está confirmada e seu show começa a partir das 19h, além dela, a DJ Lady Afro se apresenta no Festival Niara. Por fim, o pagode do Tadeu e convidados animam a galera a partir das 21h.
A DJ Lady Afro trará para o festival um setlist repleto de ancestralidade e valorização. “O meu set vai ser só de músicas de pessoas pretas, voltadas para a ancestralidade mesmo, com uma pesquisa por meio de músicas brasileiras, afrobeat também, misturado com afrobeat, e também alguns momentos hip-hop, que é algo também que é muito forte na nossa cultura. Também haverá artistas brasileiras, músicas brasileiras que falam sobre religião, sobre a nossa cura, a nossa cultura”, adiantou em entrevista ao jornal O Estado.
Para a artista, esse tipo de evento é uma abertura de oportunidades para empreendedores e marcas. “Afirma a nossa cultura, incentiva por meio da representatividade aos jovens e crianças, e as pessoas em geral, a irem atrás de conhecer esses empreendedores, esses artistas, a se inspirar e mostrar uma nova perspectiva de pertencimento para elas”, destacou.
“A combinação de diversas linguagens culturais transmite uma mensagem de valorização da ancestralidade através do Festival Niara destacando a importância de cada expressão cultural e como elas se complementam para fortalecer esse propósito, criando uma narrativa coletiva que celebra as raízes, promove a diversidade e fortalece os laços entre as pessoas e suas tradições, reafirmando a importância de preservar e nutrir a herança cultural para as futuras gerações”, reforçou Eduardo.
A apresentação do festival fica a cargo da comunicadora e cerimonialista Jacklin Andreucee. Como apresentadora de telejornal, assim que soube do evento já utilizou da plataforma de trabalho para a divulgação.
“Eles estavam na época precisando de doação de máquina de costura. É um projeto que leva empoderamento, leva uma possibilidade de segunda renda, trazendo ancestralidade para a comunidade Tia Eva. E a partir desse momento eu entrei em contato com eles, apoiando na divulgação, na possibilidade de divulgação, e na época eles me convidaram, já em fevereiro, para o festival que teria agora, no dia da consciência negra, para fazer parte da apresentação. Farei essa apresentação de uma forma voluntária, porque eu trabalho também com isso, como mestre de cerimônias, mas estarei de forma voluntária, até porque eu apoio a minha comunidade, a comunidade negra de Campo Grande”, explicou.
Para ela, é visível como a comunidade negra tem trazido para o dia a dia, peças que mostram a força da ancestralidade. “Cada vez mais tempos orgulho da nossa origem. Eu, faço parte das ações populares nesta intenção, de fortalecer a imagem positiva do povo negro. Do meu povo e tenho muito orgulho disso. Por ser uma figura pública, de poder propagar a minha cultura”.
O desfile
Sem dúvidas, o destaque do festival será o desfile. Como coordenador do Projeto Niara, Eduardo comenta que acompanhar a evolução dos alunos ao longo do ano foi uma experiência “incrível e inspiradora”. “Desde o início, foi muito gratificante ver o envolvimento e o entusiasmo dos alunos em aprender sobre moda, costura, design e as referências da cultura afro-brasileira. Ao longo do processo, foi possível observar o crescimento e desenvolvimento das habilidades. Eles buscaram explorar sua criatividade e expressar sua identidade por meio das peças”.
Realizado na Comunidade Tia Eva, o desfile será na rua Eva Maria de Jesus, em frente a Igreja de São Benedito. Eduardo acredita que o local é carregado de simbolismo e é uma oportunidade de conectar a moda, a cultura e a comunidade. “O impacto de utilizar um local tão representativo vai além de simplesmente promover um evento, pois ele se torna uma celebração da identidade, da história e da herança da comunidade afro-brasileira. A escolha desse espaço simbólico é também uma forma de valorização da comunidade local, destacando a importância de suas raízes e da representatividade cultural. É uma maneira de honrar e preservar a história e as tradições locais, ao mesmo tempo em que se promove a criatividade, a inovação e a expressão artística”.
Mais detalhes da programão podem ser conferidos no instagram do projeto: @projetoniara_
Por Carolina Rampi
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