Autora celebra a poesia vegetal de Campo Grande e contos infantis
No sábado (26), o Café Doce Lembrança, localizado na Rua Dom Aquino, será o cenário do lançamento de dois novos livros da escritora sul-mato-grossense Raquel Naveira. Das 16h às 20h, os amantes da literatura poderão conferir de perto as obras “Ponto de Fuga”, uma coletânea de poemas, e “Nino e a Orca”, um encantador livro infantojuvenil.
“Ponto de Fuga” faz parte da Coleção ‘Infame Ruído’, uma iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Humano Dagobé, que visa promover a literatura das margens. Com poemas selecionados por Cláudio Daniel, a obra reúne peças de livros anteriores da autora e também ineditismos. Anelito de Oliveira, que assina a apresentação, destaca a conexão profunda entre a poesia de Naveira e seu território, Mato Grosso do Sul, ressaltando a riqueza botânica e a potência da natureza que permeiam seus versos.
O poema que dá título à coletânea é uma reflexão sobre fuga e busca por um ideal. Em seus versos, Naveira evoca imagens de mar e céu, criando uma atmosfera que convida o leitor a uma viagem sensorial. A escrita é marcada por um lirismo que revela a busca por um “mundo longe da Terra”, ecoando o desejo humano de escapar da realidade.
A inclusão dos poemas vegetais na coleção “Infame e Ruído” surge de um convite para o projeto “Terceira Feira: Encontro de Literaturas às Margens do Mundo”, onde a coleção foi lançada. Promovida pela revista “Fera Habitações do Encantado” e fruto da imensa editorial, a coleção tem como objetivo a formação de professores.
Processo criativo de Pontos de fuga
A coletânea “Pontos de Fuga”, que abrange quatro décadas de poesia, reflete uma notável evolução poética. Mais do que isso, evidencia uma dedicação ao dom da escrita, que é o que motiva o autor a viver e a criar. Essa trajetória revela não apenas o amadurecimento de sua expressão artística, mas também o compromisso contínuo com a literatura.
Para o Jornal O Estado, Raquel Naveira ecplicou que o título “Infame e Ruído” é uma referência a um verso do poeta Cláudio Manoel da Costa, um inconfidente. Para o poeta Cláudio Daniel, que selecionou os poemas, participar desse projeto foi uma experiência inovadora.
“Anelito de Oliveira, jornalista e escritor responsável pela apresentação dos poemas, destacou que as minhas composições revisitam uma rica diversidade de elementos vegetais, incluindo amoreiras, rosas, juncos, engavezeiros e árvores da floresta, culminando com os icônicos ipês”, afirmou Naveira.
Campo Grande é conhecida como a cidade dos ipês, caracterizada por sua abundância de árvores e vegetação. É nesse ambiente que Naveira escreve e vive, em uma profunda conexão com a natureza local. Ele expressa sua sintonia com as árvores da cidade, que representam suas raízes e origem, além de se identificar com a terra que serve como seu tronco e fonte de força.
“Ponto de Fuga é necessidade de evasão do espírito através da arte. Trato de temas como a natureza, a terra de fronteira capacidade de observação profunda do cosmos e o amor à arte”, explicou.
“Nino e a Orca” e o imaginário infantil
Por outro lado, “Nino e a Orca” traz um mergulho no universo infantil através de seis contos ilustrados pelo artista plástico Guto Naveira. Com narrativas que capturam a sensibilidade e a imaginação de Nino, as histórias transitam por temas como amizade, aventura e descoberta. A narradora apresenta um mundo onde as brincadeiras se tornam experiências mágicas, permitindo que os pequenos leitores se conectem com sua própria criatividade.
“Meus livros infantis sempre partem das lembranças da menina que eu fui ou são dedicados a uma criança em especial. Neste caso, ao Nino, um menino de seis anos, a idade mágica em que todas as escolhas de vida acontecem. É nesse período que surgem os gostos e a decisão de amar e de ser amado”, detalhou Naveira.
Um dos trechos revela a magia do cotidiano: “Nino corre com a orca pela sala. A sala vira mar, as poltronas, rochedos verdes.” Essa transição entre o real e o imaginário é um convite à exploração, mostrando como as crianças podem transformar seu ambiente com a força da imaginação.
“Nino é uma criança adorável que me inspira a cada olhar, a cada palavra e a cada travessura. Ele é o menino que me enche de ternura, até mesmo quando está dormindo. Nos contos da infância lúdica, o Nino consegue ressignificar todas as coisas”.
Nino fica fascinado diante das flores e das árvores, especialmente das flores. Para Naveira, ele representa uma fonte de renovação, uma criança que se conecta ao passado, enquanto estamos todos no limiar da velhice, unindo duas pontas de uma mesma trajetória. Os brinquedos e a importância de brincar são fundamentais; é através da imaginação que se habita mundos paralelos, aprendemos e crescemos, absorvendo saberes e sabores.
Raquel Naveira destaca a relevância da literatura infantil, afirmando que ela não é apenas destinada às crianças, mas também cativa o coração de todos os leitores. Muitas obras, embora não consideradas infantis, conquistaram o público jovem, como “As Viagens de Gulliver” e “Alice no País das Maravilhas”, além de episódios da mitologia grega. “Tornar-se um leitor desde a infância é garantir uma boa formação, uma companhia enriquecedora e muitas coisas boas ao longo da vida”, concluiu Naveira.
Raquel Naveira é uma figura proeminente na literatura brasileira. Formada em Direito e Letras pela Universidade Católica Dom Bosco, ela lecionou no Departamento de Letras até sua aposentadoria. Mestrada em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Naveira também é membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa, consolidando sua posição como uma das vozes mais respeitadas da literatura contemporânea.
Serviço
O evento acontecerá no Café Doce Lembrança, localizado na Rua Dom Aquino, das 16h às 20h. Este é um momento imperdível para os amantes da literatura, onde os leitores poderão conhecer de perto as novas produções da autora.
Por Amanda Ferreira
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