Projeto social leva jovem de Corumbá à Orquestra Sinfônica Brasileira
Valério Reis, jovem violoncelista de 21 anos, natural de Corumbá, interior de Mato Grosso do Sul, foi selecionado para um intercâmbio na OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) sediada no Rio de Janeiro. Em 2012, aos oito anos, o músico ingressou no Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, sem sequer imaginar que um dia teria a oportunidade de participar da OSB. Sua jornada até essa conquista foi marcada por desafios, aprendizados e dedicação.’
Valério é o primeiro músico formado no Instituto Moinho Cultural Sul-Americano a ingressar na residência de longa duração da OSB, reconhecida como um dos conjuntos sinfônicos mais importantes do país e tem mais de 80 anos de história. A residência de longa duração tem seis meses e, ao fim, os participantes se apresentam em um concerto, junto com os músicos profissionais da OSB.
“A felicidade por conquistar essa vaga, que é extremamente disputada, foi imensa, embora eu tenha ficado um pouco confuso inicialmente. Minha reação foi de extrema felicidade por realizar um sonho que carrego desde minha primeira experiência no Instituto Moinho Cultural Sul-Americano. Essa conquista não é apenas minha e a sensação de gratidão que experimentei naquele momento foi imensa”, relatou o Valério ao Jornal O Estado.
O projeto faz parte de uma oportunidade aberta para instrumentistas que participam de orquestras nos pólos atendidos pela iniciativa “Conexões Musicais”. Realizado pela Fundação OSB desde 2017, o objetivo principal é democratizar o acesso à música clássica e já impactou cerca de 30 municípios brasileiros com atividades educacionais e culturais.
Processo seletivo
O processo seletivo para a residência na Orquestra Sinfônica Brasileira foi composto por três etapas distintas que durou três meses e exigiu de Valério não apenas talento musical, mas também determinação e coragem. Desde o preenchimento das formalidades burocráticas na fase de inscrição, passando pela etapa da pré-seleção por vídeo, até chegar à bancada avaliadora presencialmente com os professores, cada fase representou um desafio único para o jovem músico.
“A parte mais desafiadora do processo seletivo foi a pré-seleção por vídeo. Gravar e enviar o vídeo exigiu uma execução impecável para tentar impressioná-los e transmitir o som desejado, o que foi mais difícil do que em uma apresentação ao vivo. A bancada presencial foi mais acolhedora, com professores queridos e profissionais incríveis. Apesar do nervosismo, consegui me apresentar e confiar no resultado”, afirmou o músico.
Valério conta que possuía uma rotina de estudos intensa enquanto conciliava suas responsabilidades de professor no Instituto Moinho Cultural. Entre os horários de trabalho, ele se dedicou aos estudos nos momentos paralelos às suas aulas. Seja após o expediente, durante o horário de almoço ou nos intervalos disponíveis, encontrava tempo para se aprimorar.
“Além de praticar muito, também investi tempo em pesquisa e análise, envolvendo tanto aspectos teóricos quanto práticos, desde o estudo nota por nota até o refinamento da afinação. O processo foi desafiador, especialmente ao conciliar essa dedicação com minhas responsabilidades no Moinho Cultural. Mas esforço valeu a pena. Expresso minha gratidão por todo o apoio recebido durante esse período”, declarou o musicista.
O violinista e diretor artístico da OSB, Nikolay Sapoundjiev, esteve presente em Corumbá para acompanhar o processo seletivo. Ele revela que a residência de longa duração existe há sete anos. “A partir de junho, Valério será membro da Orquestra Sinfônica Brasileira, participando diariamente de nossas atividades como colega, envolvendo-se em ensaios e concertos. Além disso, terá aulas de instrumento com nossos principais músicos. Esperamos que essa experiência seja enriquecedora para ele”, ressaltou.
Moinho Cultural
Desde o início de sua jornada no Moinho Cultural, Valério explorou diversas atividades, desde ballet até aulas de tecnologia, antes de descobrir sua paixão pela música. Foi no violoncelo, aos 11 anos, que encontrou sua verdadeira afinidade. “Experimentei vários instrumentos, mas foi no violoncelo que me identifiquei”, relembra.
O que o atraiu para o violoncelo foi ter amigos que tocavam e que ele estimava muito. Ao ver o instrumento pela primeira vez, ele se apaixonou instantaneamente e decidiu que era isso que queria fazer. No ano seguinte, entrou em contato com o professor Emanuel Teixeira e ingressou em sua turma, onde aprendeu os fundamentos, desde segurar o arco até as primeiras notas do instrumento, além da postura adequada.
“Após ingressar na orquestra do instituto para tocar em um concerto ao final do ano, uma experiência emocionante em meu primeiro ano de estudo do instrumento, meu aprendizado progrediu muito. No ano seguinte, estabelecemos intercâmbios com professores externos, como Eduardo Martinelli, que contribuíram significativamente para meu desenvolvimento, tudo sob a orientação do professor Emanuel”, relembrou o musicista.
Esse contato inicial fez crescer ainda mais o sonho de tocar com a OSB. Em 2022, ele teve a oportunidade de se apresentar pela primeira vez com a Orquestra Sinfônica Brasileira, que é uma parceira de longa data do Moinho Cultural através do programa Vale Música, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos mais importantes e emblemáticos palcos do país.
“Agora, estou realizando esse sonho de estudar com os melhores músicos do Brasil e de tocar ao lado deles. É a concretização de um desejo antigo, uma grande realização para mim como músico, para o Instituto Moinho Cultural, que me formou, e também para Corumbá, por ter um corumbaense vivenciando essa experiência com a Orquestra Sinfônica Brasileira”, compartilha o violoncelista.
Planos
Valério acredita que o intercâmbio fortalecerá os laços entre a OSB e o Instituto Moinho Cultural, além de beneficiar a comunidade de Corumbá ao ter um representante local na renomada orquestra. Ele espera que sua experiência inspire outros jovens músicos e fortaleça ainda mais o cenário cultural da região.
“Para a comunidade de Corumbá, ter um conterrâneo na OSB é um feito significativo. É uma oportunidade única de ver alguém que cresceu na cidade alcançar sucesso em uma instituição tão renomada, representando as raízes locais em um cenário nacional”, destacou.
Após a residência, Valério planeja concluir seus estudos no Rio de Janeiro ou até mesmo no exterior, dependendo das oportunidades que surgirem. Ele aconselha aos jovens músicos que persistam em seus sonhos.
“Nunca desistam do sonho de vocês. Eu não desisti do meu e cheguei onde eu estou. Então não desistam. O caminho ele é árduo, mas a vitória é bem maior, a música é incrível, ela te leva a lugares inimagináveis”, finalizou o músico.
Por Amanda Ferreira
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram
Leia mais: