Caso reacende as lembranças do Caso Sophia onde a morte não foi evitada apesar do histórico de violência
A violência contra crianças em Mato Grosso do Sul tem sido uma triste realidade, marcada por casos de maus-tratos e negligência que se repetem. O caso recente de um menino de apenas 3 anos, resgatado em estado de desnutrição e com graves ferimentos em Anastácio, reacendeu o alerta sobre a omissão da rede de proteção infantil.
Na última segunda-feira, 3 de fevereiro, a criança foi levada ao hospital pela própria mãe, de 22 anos. O quadro era alarmante: lesões por todo o corpo, sinais de desidratação severa e um forte odor que denunciava o abandono. Diante da gravidade, a equipe médica acionou o Conselho Tutelar e a Polícia Militar.
Segundo o boletim de ocorrência, no dia anterior, conselheiros tutelares já haviam chamado a PM ao hospital para denunciar os maus-tratos. O menino foi transferido para Campo Grande, onde recebe atendimento adequado.
As versões apresentadas pelos familiares foram contraditórias. Inicialmente, a mãe afirmou ter deixado o filho sob os cuidados da sogra, enquanto a avó a acusou de agredir a criança. Posteriormente, a mãe mudou seu relato, culpando a própria irmã, alegando que ela espancava e amarrava o menino com um cadarço de tênis. A tia negou a acusação e afirmou que a verdadeira agressora era a mãe, acrescentando que o ambiente familiar era marcado pelo consumo frequente de álcool na presença da criança.
Apesar da gravidade da situação, a mãe e os familiares foram liberados após prestarem depoimento. No entanto, diante da repercussão do caso na imprensa, a prisão da mãe foi decretada nesta quinta-feira (6).
A delegada Isabelle Sentinello determinou a prisão por maus-tratos qualificados e solicitou medida protetiva para impedir qualquer contato da mãe com o filho. A Justiça também decidiu pelo acolhimento institucional do menino, proibindo visitas da família. “Além disso, vamos apurar se outras pessoas também foram negligentes”, afirmou a delegada.
Moradores da região denunciaram que o Conselho Tutelar já havia recebido cerca de 14 queixas sobre o caso, sem tomar medidas eficazes. “Quando suspeitavam que o Conselho vinha, trancavam a casa. A criança chorava o dia todo”, relatou uma vizinha.
Caso Sophia: o fantasma da impunidade
A advogada Janice Andrade comparou o caso ao da pequena Sophia, assassinada aos 2 anos pela mãe e o padrasto, em 2023. “O pai biológico denunciou várias vezes os maus-tratos, mas nada foi feito. Sophia morreu após espancamentos brutais. De lá para cá, pouca coisa mudou”, lamentou.
Para Janice, a visão romântica da maternidade tem sido um obstáculo na proteção infantil. “A gente precisa parar de acreditar que toda mãe protege seus filhos. Existem genitoras que negligenciam, maltratam e matam. O Conselho Tutelar precisa agir de forma imediata quando houver indícios de agressão e abandono”, afirmou.
A advogada também mencionou outros casos de negligência no estado, como crianças trancadas em casa sem comida durante o Carnaval, enquanto os pais saíam para festas. “Esses não são casos isolados. São padrões de negligência e omissão. O Estado tem sido conivente”, criticou.
Disk 100 já recebeu mais de 600 denúncias em 2025
O Disque 100, canal do Ministério dos Direitos Humanos, registrou mais de 3 mil casos de violência contra grupos vulneráveis em Mato Grosso do Sul só neste ano, sendo 608 contra crianças e adolescentes. Esse número alarmante evidencia a urgência de denunciar e cobrar ações efetivas das autoridades.
O serviço está disponível 24 horas por dia, inclusive via WhatsApp pelo número (61) 99611-0100. A omissão pode custar vidas.
Por Suelen Morales