No Dia Internacional da Mulher, o O Estado conheceu histórias de mulheres que encontram força e esperança em suas comunidades
No dia a dia das periferias de Campo Grande, mulheres têm se tornado protagonistas de uma transformação silenciosa, mas poderosa. Elas estão reinventando suas trajetórias por meio do empreendedorismo. O que antes era um improviso para complementar a renda se tornou, para muitas, a principal fonte de sustento.
Esse movimento ganhou força nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, quando o desemprego atingiu fortemente as famílias de baixa renda. Dados do IBGE apontam que as mulheres são maioria entre os trabalhadores informais no Brasil, representando cerca de 48% do total. O índice é ainda mais expressivo entre as mães solo, que, diante da dificuldade de conciliar filhos e emprego formal, enxergam no trabalho autônomo uma alternativa viável.
É o caso de Edilene Muniz de Freitas, 49 anos, moradora do bairro São Conrado. Ela trabalhava em um emprego de carteira assinada quando sofreu um acidente que a afastou do mercado de trabalho. Sem outra fonte de renda, precisou buscar soluções. “Eu comecei vendendo bolo, geladão. Fui tentando daqui e dali”, conta. O apoio da CUFA (Central Única das Favelas) foi fundamental nesse processo. “As oficinas me ajudaram muito. Participo das rodas de conversa. Isso tudo melhorou minha saúde mental”, relata.
Histórias como a de Edilene são comuns na CUFA, que atende cerca de 300 mulheres em Campo Grande, oferecendo cursos, oficinas e apoio na estruturação de pequenos negócios. De acordo com Letícia Polidoro, coordenadora da entidade, as dificuldades vão além da falta de emprego. “O desafio começa dentro de casa. Muitas dessas mulheres não têm com quem deixar os filhos, não conseguem arcar com uma babá e, por isso, acabam recorrendo ao empreendedorismo para garantir a sobrevivência”, explica.
Além das limitações estruturais, a falta de conhecimento sobre gestão financeira e precificação também é um obstáculo. “Muitas começam a empreender sem saber calcular o valor do produto ou administrar o dinheiro que entra”, conta Letícia. Para preencher essa lacuna, a CUFA oferece capacitações específicas, ajudando as mulheres a estruturar seus negócios e alcançar autonomia financeira.
Brechós comunitários e novos caminhos
Um dos exemplos de inovação dentro da comunidade foi a criação de um brechó comunitário na CUFA. Durante uma campanha de arrecadação para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, a entidade recebeu um grande volume de roupas. Algumas peças não tinham destino definido e, então, surgiu a ideia de vendê-las a preços acessíveis. “Começamos vendendo roupas a R$ 1, e isso incentivou várias mulheres a abrirem seus próprios brechós”, conta Letícia.
Entre elas está Tia Tata, de 76 anos, que montou seu pequeno negócio no bairro. Segundo a coordenadora da CUFA, a presença crescente de mulheres idosas no empreendedorismo tem chamado atenção. Muitas delas encontram no trabalho autônomo não apenas uma fonte de renda, mas uma forma de se manterem produtivas e conectadas à comunidade.
O futuro do empreendedorismo feminino na periferia
A expansão do empreendedorismo feminino na periferia tem gerado impacto social e econômico. Além de movimentar a economia local, essas iniciativas promovem independência e fortalecem redes de apoio entre mulheres. Para potencializar esse crescimento, a CUFA tem buscado novas parcerias, como com a Subsecretaria da Mulher e a Subsecretaria da Igualdade Racial. O objetivo é oferecer cursos voltados especificamente para empreendedoras negras, valorizando a cultura e ampliando oportunidades.
Letícia destaca a importância dessas iniciativas para a construção de um futuro mais justo. “O empreendedorismo feminino na periferia é revolucionário. Ele não só melhora a renda das famílias, mas dá autonomia para essas mulheres”, conclui.
Por Djeneffer Cordoba
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