Se você se declara branco, como eu, venha aqui, que esse artigo eu escrevi para nós, brancos. Enfrentar o racismo a partir da nossa branquitude não diminui ninguém. Pelo contrário, torna-nos seres melhores, pois passamos de opressores a apoiadores da luta antirracista.
Angela Davis, mulher negra, defende que numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista. Ou seja, não basta que a gente, enquanto brancos, declaremos individualmente que não somos racistas. Isso é muito pouco! Temos a obrigação de sermos antirracistas e, portanto, de lutarmos junto aos negros para que o Brasil deixe ser um país racista.
Ninguém nasce antirracista numa sociedade que nos prepara para ser racistas. Ser antirracista é uma pedagogia diária de humanidade e de racialidade que exige mudança de comportamento de nós, brancos.
O primeiro caminho, enquanto brancos, se queremos enfrentar o racismo, temos que reconhecer que, na atual sociedade brasileira, ser branco nos gera privilégios. Quais? Faça um exercício consigo mesmo, pense em cinco médicos, políticos, juízes, dentistas, artistas, cantores, empresários bem-sucedidos. Pensou? Quantos são negros? A maioria serão brancos. Isso não quer dizer que negros são inferiores ou menos capazes.
Quer dizer que o processo histórico de escravidão, de 388 anos, somado a não inclusão dos negros e negras na atual sociedade, por meio de políticas de oportunidades, geraram uma sociedade desigual que o simples fato da cor da pele ser branca faz com que tenhamos muito mais oportunidades, mesmo o Brasil sendo um país majoritariamente de negras e negros.
Tal afirmação não se trata da minha mera opinião. IBGE, STF, TST, TRE, STJ, todas essas instituições possuem estudos científicos e relatórios que comprovam que ser branco num país racista é ser detentor de privilégios. Negar esses dados é entrar na fila dos negacionistas e terraplanistas que ofereceram remédio de verme (Cloroquina) para tratamento da maior pandemia mundial, sem nenhum embasamento científico, até o momento.
O racismo é uma prática violenta construída a partir da tentativa de negar pessoas negras para privilegiar a nós, brancos. Enquanto pessoa branca, não acho que seja confortável ler ou escrever o que escrevi, mas é preciso! O racismo é uma prática construída por nós, homens e mulheres brancos. O fim do racismo passa, também, por nós, brancos, mas enquanto insistimos em nos fazer de desentendidos, os negros e negras seguem, diariamente e incansavelmente, lutando e nos mostrando o quão perverso é seguirmos classificando vidas pela cor de sua pele e pelo seu cabelo crespo. Mudar nossas práticas racistas passa por uma mudança de nossa mentalidade branca.
O mês de novembro é o mês nacional da consciência negra. A data de 20 de novembro é o grande marco da luta negra, pois é o dia da morte de Zumbi dos Palmares, figura revolucionária que lutou pela liberdade dos negros escravizados. Por esse motivo, durante todo o mês de novembro, escreverei nessa coluna a partir do meu local de privilégio, que é ser branco numa sociedade racista e o quanto nós, brancos, precisamos de letramento racial diariamente. Dedico esse artigo à professora Eugênia Portela, mulher negra, ativista, política, advogada que me ensina a respeito de como podemos ser brancos sem ser racistas.
Por – Tiago Botelho
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Fico feliz em ver suas lutas aliadas as nossas, pois tudo que disse quando nós falamos simplesmente soa aos ouvidos da branquitude não aliada como (MIMIMI). GRATA pelas palavras e pela partilha. SIGAMOS🤝🏾😘👸🏿💜
Seu olhar é um olhar de respeito e de luta diária