No setor madeireiro brasileiro, a preocupação com as barreiras comerciais americanas cresce. A nova investigação comercial lançada pelo governo dos Estados Unidos pode ampliar as tarifas sobre a madeira serrada importada, afetando diretamente exporta dores brasileiros. A justificativa do assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, é que países como Brasil, Canadá e Alemanha estariam “despejando madeira” no mercado americano, ameaçando a segurança econômica dos EUA.

Luiz Caldarte
Para entender os impactos dessa medida no mercado in terno, a reportagem do O Estado conversou com o proprietário da Madeireira Madecal, Luiz Caldarte, que atua no setor há mais de cinco décadas. Segundo ele, a conjuntura já era desafiadora antes mesmo dessa possível nova barreira tarifária.
“O mercado interno estava bem retraído, principalmente para a madeira nativa. As madeiras de reflorestamento, como pinos e eucalipto, estavam mais disponíveis para exportação, mas os exporta dores enfrentavam dificuldades em encontrar mercados estáveis”, afirma.
Caldarte destaca que uma parte significativa da madeira comercializada no Brasil vem do Paraná e Santa Catarina, regiões que já enfrentavam desafios na produção e distribuição. “A gente já competia de igual para igual com o produto interno. Com mais tarifas, a competitividade pode ficar ainda mais complicada”, explica.
Cenário da indústria em MS Em Mato Grosso do Sul, a indústria da madeira, especialmente voltada para a produção de celulose, segue aquecida. O preço médio da madeira de eucalipto no Estado estava em R$ 137,47 por metro cúbico em 2024, com a expectativa de que a demanda cresça com novos investimentos.
Um exemplo é a fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo, que recebeu um aporte de R$ 14,7 bilhões e tem previsão de produzir 2,3 milhões de toneladas de celulose por ano. O impacto desse investimento se reflete na geração de 10 mil empregos diretos durante a construção e na movimentação da economia regional.
No entanto, apesar dos avanços no setor de celulose, madeireiros que atuam no mercado de madeira serrada podem ser impactados diretamente pelas restrições comerciais americanas.
O que o setor pode fazer?
Com a possibilidade de novas tarifas, especialistas do setor sugerem que a diversificação de mercados pode ser a saída para reduzir a dependência do mercado americano. A China, por exemplo, já é o principal destino das exportações brasileiras de produtos florestais, e outros países asiáticos também demonstram interesse pela madeira brasileira.
Além disso, a valorização da madeira certificada e sus tentável pode ser uma estratégia para ampliar a competitividade, especialmente diante de consumidores que priorizam a responsabilidade ambiental. “A madeira brasileira tem qualidade, tem certificação. O que falta, muitas vezes, é uma política mais clara para abrir novos mercados e garantir que a gente não fique refém de tarifas internacionais”, analisa Caldarte.
Por Djeneffer Cordoba