Preço da cerveja e até pouca frequência em happy hours colaboram com o cenário
Donos de bares e restaurantes de Campo Grande têm sentido impacto no movimento de pessoas, após passar o auge do pós-pandemia. Os motivos podem estar relacionados à recuperação econômica e até mesmo pelo preço da cerveja. No entanto, os empresários estão criando estratégias para driblar o cenário.
Pesquisa realizada por analistas do Itaú BBA com proprietários de 40 estabelecimentos (com receita anual de R$ 200 milhões) mostrou que a frequên-cia tem se mantido abaixo dos 15% a 20%.
Os mais de 30 anos de experiência no segmento tornaram o proprietário da Cerv Já, Francisco José Avesane, especialista em elaborar estratégias para atrair novos clientes e manter a antiga clientela. A variedade de 40 marcas de cerveja é uma aliada do empresário, nas vendas.
“Na sexta mesmo fizemos uma degustação da cerveja Império Lager. Percebi que essa estratégia tem dado resultados e os clientes aprovam. Estamos sempre fazendo promoções das bebidas, na choperia, atrativos musicais. Nosso horário de funcionamento também é algo pensado para todo tipo de cliente abrimos às 8h30, e ficamos disponíveis o dia todo”, destaca o empresário.
Já a dona do Vera’s Bar, Vera Lucia Britez, enxergou na tecnologia uma forma de chamar a atenção dos clientes. Como o cardápio virtual, onde os consumidores podem fazer seus pedidos, acompanhar sua comanda, chamar o garçom e ainda efetuar o pagamento sem precisar ir até o caixa.
“O cardápio virtual foi uma inovação que todos os clientes aprovaram pela facilidade, a variedade de opções, tanto na alimentação como nas bebidas é nosso principal foco. As cervejas estão sempre “estupidamente” geladas, e a comida tem aquele gostinho de casa de vó. E todos os dias temos uma promoção de cerveja, por exemplo, no sábado tem a Spaten 600 ml a R$ 11. E as bandas musicais é outra estratégia que os clientes amam” conta Vera Lucia.
O empresário Luiz Antonio de Araújo, dono da P-tikos, trabalha no segmento há 6 anos. Segundo ele, depois da pandemia, o movimento no local ficou instável.
“O comércio hoje está bem instável, tem dias que a gente pensa que não vai dar movimento, mas acaba dando. Tem dias que tenho certeza que vai ser movimentando e acaba não sendo. Logo depois da pandemia, que começou a liberar o comércio, o movimento estava até bom, mas vem caindo”, declara.
Há 19 anos trabalhando com bar e restaurante, Anelyr Viana é proprietária do Point do Espeto. Ela comentou que a oscilação dos consumidores tem causado espanto, em dias em que não é esperado muito movimento.
“É fato que não é mais aquele movimento como antes da pandemia, mas acredito que está melhorando. Depois da pandemia deu uma aquecida no movimento, mas depois vem oscilando. Antes eram lotadas todas as mesas, hoje em dia já é mais na sexta-feira. Mas tem dia que, ‘do nada’, dá um movimento em plena segunda, a gente fica até sem entender”, questiona a comerciante.
Variação da cerveja
Outro fator motivador da baixa frequência, considerado pelos donos de bares entrevistados, foi o preço, em geral, dos produtos nos supermercados, com ênfase nos valores para a cerveja.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em agosto, a variação mensal da cerveja foi de 2%, em Campo Grande. O percentual é referente ao custo das bebidas comercializadas em bares ou restaurantes. A variação acumulada no ano foi de 2,84%, enquanto que a variação acumulada em 12 meses foi de 7,03%.
Na comparação com agosto do ano passado, verifica-se que a variação mensal da bebida, em 2023, foi maior do que a registrada em 2022 (1,06%). Por outro lado, os maiores valores foram encontrados em agosto de 2020, quando registrou-se 2,48% na variação mensal e 6,03% na variação acumulada no ano.
Pouca frequência em happy hours também prejudica
A pesquisa realizada pelo Itaú BBA mostra ainda que um dos principais riscos apresentados é a mudança no padrão de consumo. Conforme respondido pelos proprietários de bares, os mais novos não tem demonstrado frequência alta em “happy hours”, por exemplo.
Os analistas também se reuniram com o dono dos 40 bares, e saíram com uma visão mais positiva sobre a Ambev. As principais conclusões da conversa foram que a Ambev tem sido capaz de lançar marcas que conseguem competir com a Heineken, como a Becks e Spaten.
Eles também chegaram à conclusão de que a Heineken pode ter que continuar aumentando os preços da sua marca flagship, se quiser manter o status de “premium”, o que deve tornar o ambiente competitivo mais favorável para a Ambev. O dono da rede de bares disse, no entanto, que depois de um boom inicial pós-pandemia, está havendo uma queda na frequência de bares e “happy hours”.