Deam ataca imprensa em carta pública após repercussão de feminicídio

Foto: Divulgação
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A delegacia especializada se manifestou após denúncias de falhas no atendimento a Vanessa Ricarte

A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) publicou uma carta pública nesta terça-feira (18) em que ataca a imprensa por sua cobertura sobre a condução do caso do feminicídio da jornalista Vanessa Ricartes. No documento, assinado por integrantes da unidade policial, as delegadas classificam as reportagens como “sensacionalistas” e acusam veículos de comunicação de desqualificarem o trabalho da polícia.

Na carta, a Deam manifesta apoio às delegadas envolvidas no caso e expressa “indignação diante dos ataques injustos e sensacionalistas dirigidos à equipe”. O documento afirma que críticas à atuação das delegadas representam um ataque não apenas às profissionais, mas também a todas as mulheres que atuam na segurança pública. “Nossa atuação é pautada na legalidade, na técnica e no compromisso com a verdade e a justiça”, diz um trecho.

No caso, a polêmica envolvendo a delegacia ganhou força após a repercussão na imprensa sobre possíveis falhas no suporte a vítimas de violência doméstica, evidenciado após negligência no atendimento prestado à jornalista.

Vanessa foi assassinada pelo ex-noivo, o músico Caio Nascimento, poucas horas após denunciar a violência  que sofria e buscar medida protetiva na delegacia.

Caso Vanessa Ricarte: áudios expõem falhas graves no atendimento da Deam

A jornalista relatou, em mensagens gravadas antes de sua morte, que precisou fugir de um cárcere privado para buscar ajuda na Deam. Nos áudios, ela descreve o atendimento como insensível e afirma que foi orientada a conversar com o agressor. Horas depois, Vanessa foi assassinada a facadas dentro de casa. Os áudios contradizem a versão oficial da polícia, que afirma ter seguido protocolos de segurança e oferecido abrigo para a vítima.

Diante da repercussão, a Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul (Adepol-MS) defendeu a corporação, afirmando que todas as medidas disponíveis foram tomadas, incluindo a orientação para que Vanessa permanecesse na Casa da Mulher Brasileira. A entidade justificou que a vítima recusou a estadia, mas ressaltou que tal decisão não poderia ser imposta de forma coercitiva.

Ministra das Mulheres critica falhas no atendimento

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, se manifestou sobre o caso, afirmando que o atendimento prestado na Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande apresentou uma sucessão de falhas. Segundo ela, é necessária uma reformulação urgente dos procedimentos e da gestão do sistema:

“É um coletivo de falhas que vai se dando que precisa ser consertado, arrumado e a gente acha que passa por uma questão política, por uma questão de gestão do sistema.”

Cida destacou ainda que os profissionais que atuam no atendimento a vítimas de violência doméstica precisam ter aptidão para lidar com essas situações. “Um outro problema que é a questão de qualificação dos profissionais, não é a qualificação de estudar, de formar, mas é questão de aptidão (…). As pessoas que têm que trabalhar com as mulheres em situação de violência precisam ter aptidão, precisam gostar de estar neste lugar”.

O Ministério das Mulheres formou um grupo de trabalho com instituições estaduais e municipais para melhorar o atendimento às vítimas e evitar novas falhas. Segundo Cida, a situação em Campo Grande deve servir de alerta para todo o país.

Jornalistas impedidos de entrar na Casa da Mulher Brasileira

A crise também atingiu a imprensa. Jornalistas foram impedidos de entrar na Casa da Mulher Brasileira na manhã de terça-feira (18) para acompanhar as investigações e obter informações sobre o caso Vanessa Ricarte. A restrição de acesso gerou revolta entre profissionais da comunicação e levou o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS) a formalizar uma denúncia ao Ministério das Mulheres.

No documento enviado ao Governo Federal, o sindicato cobrou explicações sobre os motivos da restrição e questionou a transparência da Casa da Mulher Brasileira. A entidade solicitou esclarecimentos sobre os protocolos de atendimento à imprensa e destacou que a restrição violou o direito à informação.

Após a pressão do Sindjor-MS, a direção da Casa da Mulher Brasileira voltou atrás e permitiu o acesso dos jornalistas ao local. A entidade reforçou que a liberdade de imprensa é essencial para garantir a fiscalização das instituições e assegurar a transparência das ações do poder público.

“A imprensa tem um papel fundamental na fiscalização das ações do poder público e na divulgação de informações de interesse público. A liberdade de imprensa é um direito fundamental garantido pela Constituição Federal e é essencial para o funcionamento de uma democracia. Ao restringir o acesso de jornalistas, a Casa da Mulher Brasileira prejudica o debate público sobre um tema de grande importância social”, diz trecho da nota.

 

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