Idosa de 65 anos morta pelo companheiro em Juti é a 5º vítima de feminicídio em MS
No mês em que a CMB (Casa da Mulher Brasileira) de Campo Grande completou dez anos, mais um feminicídio foi registrado em Mato Grosso do Sul. O crime ocorreu ontem (24) no município de Juti, a 313 quilômetros da Capital. Após o quinto homicídio de mulheres apenas nos primeiros 55 dias de 2025, a prefeitura e governo do Estado discutem tratativas para ampliar a estrutura da Casa da Mulher Brasileira.
A prefeita Adriane Lopes, em reunião com o vice-governador Barbosinha na manhã de ontem (24), reforçou que apoia o projeto de ampliação da unidade em Campo Grande. O objetivo é entender melhor os fluxos [de atendimento] e buscar novas estratégias para modernizar a estrutura e melhorar os processos da CMB. Segundo a prefeita, novas reuniões serão realizadas em conjunto com o governo para viabilizar soluções.
“O vice-governador veio na missão de apresentar para nós uma proposta, que estamos avaliando. Nós teremos ainda uma segunda reunião com o vice-governador para que todo esse grupo de trabalho do Estado e município, em busca de soluções, preveja talvez ampliação da Casa da Mulher, tendo em vista o número de atendimentos que tem hoje”, explica a prefeita.
A primeira Casa da Mulher Brasileira, inaugurada em 2015, completou dez anos de atendimento neste mês. Desde sua criação, foram realizados mais de 1,6 milhão de atendimentos psicossociais, 138 acolhimentos na recepção e mais de 80 mil boletins de ocorrência. A unidade foi instalada na Capital devido à alta demanda de atendimentos registrados na Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180. Para Adriane Lopes, a reformulação da Casa é necessária para reforçar o compromisso no fortalecimento da rede de proteção à mulher.
“Hoje a Casa da Mulher Brasileira resguarda centenas e centenas de vidas. Eu acho que o papel e tudo que foi feito nesses dez anos não pode ser desconsiderado. O que nós precisamos agora é da ampliação dos serviços para melhor atender as mulheres na nossa Capital. Há dez anos, quando ela foi construída, foi pensada para um público, e hoje nós temos um público bem maior do que aquele entendido lá atrás”, afirma.
Durante o encontro, o vice-governador José Carlos Barbosa, o Barbosinha, explicou que o governo tem trabalhado na integração dos entes que atuam na rede de proteção à mulher, em ferramentas que tragam celeridade aos processos e na melhoraria do atendimento às vítimas.
“A Casa da Mulher Brasileira precisa ter um fluxo bem estruturado, com processos ágeis e tecnologias modernas para que os atendimentos sejam ainda mais eficientes. Esse trabalho conjunto nos permitirá otimizar os recursos e fortalecer a rede de proteção. A conversa é essencial para avançarmos e garantirmos um atendimento ainda mais humanizado às mulheres que buscam amparo”, pontuou Barbosinha.
Além da prefeita Adriane Lopes e do vice-governador Barbosinha participaram da reunião a secretária de Estado da Cidadania, Viviane Luiza; secretário-executivo de Gestão Política da Capital, Markito Perez; a secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Dra. Patrícia Cozzolino; a secretária da Casa Civil, Thelma Mendes; a secretária-executiva da Mulher, Angélica Fontanari; o secretário de Governo e Relações Institucionais, Youssif Domingos e seu adjunto, Ulisses Rocha; por fim o secretário Especial de Segurança e Defesa Social, Anderson Gonzaga.
Atendimento integrado e acolhedor
A Casa da Mulher Brasileira foi alvo de críticas após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte em Campo Grande, ocorrido no início do mês. A unidade, responsável pelo acolhimento de mulheres em situação de violência, foi acusada de negligência no atendimento à vítima, que havia buscado ajuda antes do crime. O caso de Vanessa Ricarte encorajou outras mulheres que também denunciaram o atendimento prestado na CBM.
Diante desse caso, a vice-presidente do CRP/MS (Conselho Regional de Psicologia) Bárbara Marques Rodrigues, coordenadora e psicóloga atuante na rede especializada de atendimento no Centro de Atendimento à Mulher Vítima de Violência – Viva Mulher Dourados, acredita que a proteção a mulher deve ir além de “palestras” e focar em ações que concretizem a proteção e direitos garantidos pela Lei Maria da Penha.
“A Casa da Mulher Brasileira é uma conquista das lutas das mulheres que vieram antes de mim, antes de nós. Hoje, vejo que nosso desafio é garantir que os servidores públicos sejam, de fato, capacitados para oferecer uma escuta qualificada e praticar uma comunicação não violenta. Os órgãos fiscalizadores devem atuar na linha de frente para identificar falhas, garantindo que, quando houver necessidade de mudanças, os profissionais compreendam que isso não é algo pessoal, mas uma exigência para a melhoria de um serviço público financiado com dinheiro público”, afirma.
Segundo Bárbara, é fundamental garantir um atendimento integrado, acolhedor, humanizado e eficiente.
“As mulheres não querem ser mais humilhadas quando for fazer denúncias ou procurar seus direitos, querem que as leis sejam cumpridas para garantir seu direito à vida”, enfatiza.
5º feminicídio em MS
Na madrugada de ontem (24), uma idosa de 65 anos foi morta pelo companheiro, de 37 anos, no município de Juti. O crime ocorreu em um terreno baldio, onde a vítima foi brutalmente atacada pelo suspeito, que teria arrastado seu corpo até uma residência e colocando-o sobre um colchão, supostamente como forma de simular eventual morte natural.
Segundo o delegado Edson Leandro Santiago, segundo testemunho acredita-se que, após discussão entre o casal, o suspeito tenha arrastado o corpo na tentativa de simular uma morte natural. Por volta de 9h30, a Delegacia de Juti passou a realizar diligências ininterruptas em busca do suspeito, descobrindo, após levantamentos investigativos, que ele estaria tentando fugir da cidade. O autor foi preso em flagrante enquanto tentava escapar em uma rodovia entre Juti e Caarapó.
“A 8 quilômetros do centro de Juti, a equipe de Caarapó conseguiu identificá-lo e localizá-lo. Quando abordado, em primeiro momento, negou que tivesse matado a vítima, mas, após entrevistas, ele confessou que após discussão, ele esganou a vítima e depois arrastou o corpo cerca de 100 metros e o colocou dentro de uma quitinete, em um colchão, de modo a aparentar que ela estaria dormindo”, explica o delegado. O caso segue sob investigação.
Ana Cavalcante